Reabilitação pulmonar no pós-Covid: tratamento reduz risco de sequelas permanentes.

A reabilitação pulmonar no pós-Covid, com remédios e fisioterapia, é essencial para evitar complicações mais graves.

17 de janeiro de 2022

Publicado em janeiro de 2022.

Reabilitação pulmonar no pós-Covid

As alterações pulmonares causadas pela Covid-19 exigem acompanhamento médico.

O pneumologista Dr. Otávio Goulart Fan, explica por que em alguns casos a falta de ar persiste meses depois da Covid-19 e alerta para a importância do tratamento precoce.

As alterações pulmonares causadas pela Covid-19 exigem acompanhamento médico.

Pacientes que precisaram de internação hospitalar por causa da doença têm maior chance de desenvolver a chamada Covid longa.

São pessoas que demoram meses a se recuperar dos prejuízos causados pelo vírus.
Um check-up com o pneumologista para avaliar a função pulmonar é essencial.

Dependendo do grau de inflamação nos pulmões e a resposta do organismo de cada um, há risco de sequelas.

A principal delas é a fibrose pulmonar que danifica os tecidos de tal forma que é impossível a regeneração da área afetada.
A boa notícia é que na imensa maioria dos casos os danos causados pela Covid-19 nos pulmões desaparecem após alguns meses de tratamento.

Se você teve Covid e percebe que ainda apresenta sintomas, procure ajuda especializada.

Pneumologista responde dúvidas sobre alterações pulmonares no pós-Covid.
Entrevista com Otávio Goulart Fan.

Quais são as queixas mais comuns em relação às alterações pulmonares depois da Covid?

Dr. Otávio Goulart Fan - Algumas pessoas se queixam de cansaço, outras interpretam como falta de ar, mas é o mau funcionamento dos pulmões.

Para alguns o problema só se apresenta em momentos de grandes esforços físicos, mas há casos de pacientes que enfrentam essa dificuldade ao fazer uma atividade leve ou até mesmo em repouso.

Eu não diria que são queixas comuns, mas são as mais preocupantes.

Esse tipo de queixa vem, na maioria das vezes, de pacientes de casos mais graves, de pacientes que tiveram a Covid mais intensa, ficaram internados por longos períodos e até intubados em UTI.

Normalmente a repercussão é maior nestes casos, de pessoas que tiveram 20, 30, 40 e até 50 por cento de comprometimento pulmonar.

Como o novo coronavírus age nos pulmões?

Dr. Otávio Goulart Fan – O novo coronavírus atua de forma semelhante a qualquer vírus respiratório.

Não é diferente do vírus de uma gripe comum, do H1N1, por exemplo, que assolou o mundo há alguns anos.

Ele é semelhante, mas a questão é que por ser um vírus novo e ter uma capacidade de reprodução muito alta, durante o período de infestação, ele provoca uma série de inflamações, ou seja, uma pneumonia viral.

A partir daí podem se instalar outras pneumonias oportunistas causadas por uma bactéria ou fungo.

Ainda mais se o paciente estiver internado no hospital.
A gravidade desta pneumonia vai estar muito relacionada com a intensidade da reação do organismo da pessoa infectada.

Quem tem imunidade boa, reage e controla.

Que tem imunidade muito exagerada ou nenhuma imunidade, pode sofrer consequências mais sérias.
As inflamações dos alvéolos (onde ocorre a troca de gás carbônico por oxigênio) fazem com que os pulmões fiquem edemaciados, ou seja, inchados.

Isso impede a troca de gases e a oxigenação do corpo.

O paciente tem que respirar mais rápido para compensar, muitas vezes precisa ser intubado e pode não sobreviver, como aconteceu com mais de 600 mil brasileiros durante a pandemia.

Por que a pessoa que teve Covid pode demorar meses para se recuperar?

Dr. Otávio Goulart Fan – Qualquer pneumonia grave pode deixar sequelas.

O que é peculiar na Covid é a forma lenta da recuperação e o fato de que, muito raramente, o paciente consegue se recuperar sem ajuda.

A pessoa precisa de tratamento médico e fisioterápico.

Por quanto tempo os sintomas da Covid longa persistem?

Dr. Otávio Goulart Fan – Na maioria dos casos o paciente tem que fazer tratamento com remédios e fisioterapia por um período de 3 a 6 meses.

Se não fizer tratamento, os sintomas podem tornar-se crônicos.

Quando é maior o risco de sequela da Covid?

Dr. Otávio Goulart Fan – Pessoas com alguma comorbidade, como idade superior a 65 anos, pressão alta ou diabetes, que tiveram uma infecção grave de Covid, têm maior chance de ficar com sequelas porque já tinham um organismo mais debilitado.
Mas durante a pandemia aprendemos que não existem regras.

Pessoas fragilizadas passaram bem pela doença, quase sem sintomas.

E o contrário também aconteceu.

Tivemos vítimas com menos de 30 anos, até atletas, que morreram.

A fibrose pulmonar pode surgir depois da Covid?

Dr. Otávio Goulart Fan – A fibrose pulmonar pode ocorrer.

É importante que o paciente seja acompanhado por um médico para verificar se o problema existe.

Para isso fazemos alguns exames de tomografia em diferentes etapas do tratamento.
A fibrose acontece quando a parte do pulmão acometida pela inflamação não se regenera, surge uma cicatriz no local, como acontece na pele, depois de um corte.

Dependendo do tamanho da fibrose, do percentual de comprometimento dos pulmões, o paciente fica dependente de oxigênio, de respiradores.
Como a fibrose é algo definitivo, se houver, por exemplo, 70% de comprometimento do pulmão, a solução é bem mais complexa.

Já temos alguns casos no Brasil e no mundo de transplante de pulmão por causa da fibrose.

Felizmente esse tipo de caso é raro.

O tratamento médico e fisioterápico precoce é a forma de evitar o desenvolvimento da fibrose pulmonar.

Como é feito o diagnóstico de alterações pulmonares pós-Covid?

Dr. Otávio Goulart Fan – O diagnóstico é baseado principalmente em exames de imagem, sendo que o mais adequado é a tomografia de tórax.

Ela consegue indicar o percentual de comprometimento dos pulmões com precisão.
Outro recurso fundamental para o diagnóstico é a prova de função pulmonar.

A espirometria é um exame aplicado normalmente pelo fisioterapeuta e analisado em conjunto com o médico.

O paciente sopra num aparelho e um computador mede a capacidade pulmonar, respeitando parâmetros esperados para o perfil do paciente, levando em conta sexo, idade e altura.
Também temos o teste de esforço, com caminhada de 6 minutos; a medição do oxigênio no sangue; o exame de difusão de monóxido de carbono, realizado dentro de uma cabine; e exames de sangue, necessários em alguns casos.

Como é feito o tratamento de pacientes com alterações pulmonares depois da Covid?

Dr. Otávio Goulart Fan – O objetivo do tratamento com remédios é otimizar as partes do pulmão que não foram atingidas pela Covid.

A área prejudicada precisa de descanso.

Pra ficar mais claro, suponha que o caso é de 40 por cento de acometimento pulmonar, trabalhamos na otimização dos outros 60 por cento.

Assim facilitamos a recuperação total.
O tratamento consiste em desinflamar os pulmões.

Para isso usamos corticoides inalatórios em aerossol, aplicados com bombinhas.

Eles têm ação bem localizada e por isso não geram tantos efeitos colaterais como os corticoides de uso oral, aqueles que a gente engole.
Também usamos broncodilatadores, medicamentos que abrem os brônquios daquela parte do pulmão que está boa. Além de tratamentos para fluidificar as secreções que surgem por causa da inflamação e facilitar a expectoração.
Já o fisioterapeuta vai trabalhar com os músculos da respiração, orientar modos de respirar.

Vai ensinar até a pessoa a se deitar de maneira a favorecer a parte boa do pulmão.

É um tratamento multiprofissional.

Qual é o impacto da sequela de Covid na vida da pessoa? Vai ter que se tratar pra sempre?

Dr. Otávio Goulart Fan – A doença ainda é muito recente e não podemos afirmar se é algo que vai prejudicar a pessoa para o resto da vida.

Em alguns pacientes, temos a impressão de que é uma sequela permanente.

Felizmente é uma minoria.

O tempo de tratamento varia muito, depende da gravidade da Covid e da resposta individual ao tratamento.

De um modo geral, pessoas que chegam ao consultório com alguma falta de ar, mas caminhando, conseguem resolver o problema em até seis meses, na média.

Agora muitos pacientes estão retornando ao consultório depois daquela onda forte de casos em maio de 2021. Felizmente, na maioria dos casos, já podemos interromper o tratamento porque o paciente se recuperou.

Toda pessoa que teve Covid deve fazer um check-up com pneumologista?

Dr. Otávio Goulart Fan - A maioria dos pacientes com sequelas teve a forma grave da Covid, mas há registros de casos mais leves que apresentaram consequências tardias.

Portanto, é recomendado que todos passem pelo check-up, principalmente se a pessoa tem comorbidades.

Por menor que seja o dano aos pulmões é importante recuperá-los.

É importante que o diagnóstico e o tratamento sejam precoces?

Dr. Otávio Goulart Fan – O tratamento tem que começar o quanto antes.

No início da pandemia, naturalmente, todo mundo ficou focado nos pacientes graves.

Hoje sabemos como é importante a reabilitação e o acompanhamento de todos os casos.

O risco da Covid ainda é grande?

Dr. Otávio Goulart FanPrecisamos nos cuidar, afinal temos novas variantes do vírus, nada de relaxar.

A máscara veio pra ficar, pelo menos para os próximos anos.

Caso necessário, procurem ajuda médica, façam o tratamento e tenham paciência.

Leva tempo, mas passa.

Otávio Goulart Fan é cirurgião torácico, professor assistente da Universidade Estadual de Londrina, especialista em Ciência da Reabilitação e integrante da equipe da  QualiMedi Saúde.

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