Quem tem dor de cabeça frequente deve procurar um especialista. A automedicação é um perigo.
Por Flavio Henrique Bobroff, neurologista.
Quem nunca teve uma dor de cabeça? Nem as crianças escapam.
O problema se tornou ainda mais comum durante a pandemia de Covid-19.
A dor de cabeça forte, que não cede com uso de analgésicos, é um dos sinais mais frequentes de contaminação pelo coronavírus.
Além disso ficamos mais estressados, passamos mais tempo diante da tela do computador, reduzimos atividades físicas e, muitos, pioraram a dieta alimentar.
Tudo isso contribui para ter dor de cabeça.
Cefaleia é o termo médico para a dor de cabeça.
Existe mais de uma centena de tipos.
As cefaleias primárias são a própria doença, como, por exemplo, a enxaqueca ou a dor de cabeça causada por nervosismo e ansiedade.
Cefaleias secundárias são um sintoma de doença.
Podem estar relacionadas a problemas simples ou muito graves.
Desde gripe, sinusite e hipertensão arterial até meningite e tumores cerebrais, dentre outros.
Felizmente, na grande maioria das vezes, as causas são benignas.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cefaleia, 95% das pessoas têm uma crise de dor de cabeça ao menos uma vez na vida.
As mulheres sofrem mais, representam 70% dos casos em razão das variações hormonais.
As dores de cabeça mais comuns são a cefaleia tensional e a enxaqueca.
A cefaleia tensional, como o próprio nome diz, é causada pela tensão dos músculos ao redor da cabeça.
A dor costuma ser difusa, se acentuando nas laterais do crânio e na nuca.
Por que os músculos ficam tensos?
Geralmente por problemas emocionais como estresse e ansiedade.
Para cefaleia tensional, analgésicos comuns e relaxamento funcionam.
A dor logo desaparece.
Já a enxaqueca provoca dor latejante de um lado da cabeça, de intensidade moderada ou severa.
A crise pode ser longa, durando entre 4 e 72 horas.
O sofrimento causa enjoo, vômitos e a pessoa não consegue manter as suas atividades normais.
Alguns pacientes percebem quando vão ter crises, ficam com a vista embaçada e enxergam pontos brilhantes.
Também se tornam mais sensíveis a barulho, luz e aromas.
A enxaqueca ocorre em pessoas com pré-disposição genética.
A frequência dos episódios varia e analgésicos comuns não costumam fazer efeito.
Estudos dão conta que 30 milhões de brasileiros sofrem com enxaqueca.
A doença atrapalha a vida pessoal e incapacita para o trabalho nos períodos de crise, gerando um impacto social e econômico relevante.
A maioria das pessoas não hesita em se automedicar quando tem dor de cabeça.
Lamentavelmente ocorre o uso indiscriminado de analgésicos que implica em outros riscos para a saúde, como desenvolver cefaleia crônica.
A recomendação, sempre, é não subestimar os sinais que o corpo emite.
Se você tem dor de cabeça toda semana, procure um especialista para investigar a causa.
E atenção, pessoa com dor de cabeça forte, que não cede com analgésico e tem com outros sintomas, como febre, vômito, confusão mental, convulsão ou desmaio, deve ser encaminhada para atendimento médico de urgência.
O diagnóstico é clínico.
O médico avalia o paciente, analisa o histórico e a descrição da dor.
Se suspeitar que é sintoma de doença, pede exames para confirmar a hipótese.
Um exemplo. Sabendo que enxaquecas são mais comuns em pessoas jovens, quando o paciente é idoso e está se queixando pela primeira vez do problema, desconfiamos e investigamos mais possibilidades.
Qual o melhor tratamento para dor de cabeça?
O tratamento varia de acordo com o tipo de cefaleia.
Em casos mais amenos, prescrevemos analgésicos comuns e anti-inflamatórios.
Para as mulheres é importante descobrir se a dor de cabeça está associada à questão hormonal, percebendo se piora durante a menstruação, se tem relação com o uso de anticoncepcional.
No caso da enxaqueca, existem medicamentos específicos para controlar as crises, os triptanos, e para tratamentos preventivos.
É válido associar terapias complementares como psicoterapia e acupuntura.
Devemos ainda evitar tudo o que serve de gatilho para dores de cabeça.
Entre os alimentos os vilões costumam ser:
• Chocolate
• Queijos fortes
• Embutidos
• Amendoim
• Nozes
• Molho de soja (shoyu)
• Bebidas alcóolicas
• Refrigerante
Fumar, passar horas em jejum, se submeter a uma rotina estressante também faz a cabeça doer, além de causar outros problemas de saúde.
Adote hábitos saudáveis, melhore a alimentação, pratique exercício, escolha uma atividade relaxante para aliviar o estresse.
Procure ajuda especializada se você vem apresentando dores de cabeça há algum tempo.
Não fique tentando encontrar explicações sem ajuda médica. Pergunte ao neurologista.