Dor crônica no idoso: envelhecimento é sinônimo de dor?

Toda dor deve ser investigada e tratada, não devemos aceitar como algo natural da velhice.

7 de janeiro de 2022

Toda dor deve ser investigada e tratada, não devemos aceitar como algo natural da velhice.
Publicado em janeiro de 2022.

A dor crônica no idoso

A dor crônica no idoso pode ser causa ou consequência de alguma doença.

O acompanhamento geriátrico preserva a qualidade de vida.
Dor no idoso não é normal.

É verdade que conforme o tempo passa, vamos sentindo o tal peso da idade.

Nosso corpo começa a apresentar mais problemas de saúde e limitações.

Mas isso não significa que devemos nos conformar em viver com dor.
Infelizmente, é comum que as dores seja negligenciadas na velhice, pelo próprio idoso e pela família.

Por causa desse comportamento, algo que poderia ser resolvido com ajuda médica, pode se complicar e tornar-se um problema crônico, causando sofrimento físico e emocional.
Conversamos com a geriatra Roberta Gobeti Delgado, da QualiMedi Saúde, sobre as causas mais comuns de dor na velhice, a importância de estarmos atentos ao sinais do corpo e do acompanhamento médico.

Dor: o impacto na vida do idoso.

O que é dor?

Dra. Roberta Gobeti Delgado – Nos baseando na definição de uma associação internacional para estudo de dor, podemos dizer que é uma sensação, uma experiência emocional desagradável, associada a um dano tecidual orgânico, real ou potencial de ocorrer.

A dor é o nosso quinto sinal vital, importante como a respiração, o pulso, a pressão arterial e a temperatura corporal. É o seu corpo dizendo que algo está errado, não faz parte do normal.

Não é normal para terceira idade ter dor.

Tem alguma coisa errada que deve ser diagnosticada e tratada.

A dor faz parte do envelhecimento?

Dra. Roberta Gobeti Delgado - A dor faz parte das doenças do envelhecimento.

É uma grande síndrome que se torna frequente quando chegamos à terceira idade.

Faz parte do envelhecimento adoecer, por isso ter dor, infelizmente, é muito comum.

A dor crônica está presente em mais da metade dos idosos institucionalizados.

Por que são institucionalizados?

Não, mas porque são, em números significativos, pacientes com mais fragilidades, com maiores comorbidades, que têm um convívio social diferente.

Quais são as principais causas de dor no idoso?

Dra. Roberta Gobeti DelgadoProblemas orgânicos e problemas psiquiátricos levam à quadros dolorosos na velhice.
A dor pode ser a causa ou a consequência de transtornos depressivos.

Muitas vezes o problema psiquiátrico surge a partir de um quadro primário de dor.

Se a pessoa sente dor por longos períodos pode acabar entrando em depressão.
A degeneração muscular e articular também gera muitos processos de dor.

Pacientes que ao longo da vida se dedicaram a trabalhos manuais e braçais, acabam desenvolvendo com mais frequência síndromes dolorosas.
Problemas osteomusculares, como osteoporose, osteoartrite e doenças reumatológicas em geral, são causas comuns de dor no idoso.

São doenças que se geralmente surgem ou se agravam na terceira idade.
Vários tipos de câncer também estão entre as doenças frequentes na velhice e são causa importante de dor.
E temos ainda as doenças metabólicas, como o diabetes que, se não controlado, pode causar neuropatia (danos aos nervos de mãos e pés) resultando em quadros extremos de dor.

Existe uma classificação médica de intensidade de dor?

Dra. Roberta Gobeti Delgado – A intensidade da dor é algo extremamente subjetivo.

O médico até tenta fazer uma régua de dor, usando uma escala onde zero significa paciente totalmente sem dor e 10 sendo algo insuportável, uma dor totalmente incapacitante.

Porém, isso varia muito de pessoa a pessoa.
Alguém que não tinha dor nenhuma e de repente passa a ter um quadro agudo de dores, vai classificar a situação como insuportável.

Já uma pessoa que convive com dores leves, mas crônicas, pode não se surpreender tanto quando a intensidade aumenta.

O importante é observar como a dor impacta no dia a dia da pessoa, na sua qualidade de vida.

Qual é a conduta adequada quando o idoso começa a se queixar de dor?

Dra. Roberta Gobeti Delgado - Primeiro precisamos definir que tipo de dor está se manifestando (muscular, metabólica, neuropática) e a causa dela.

Tratamos o paciente para aliviar a dor o mais rápido possível, mas sempre investigando a origem do problema.

Temos que tratar a doença de base e não só o sintoma.
Inicialmente fazemos uma avaliação ampla para compreender o histórico da dor e também o exame físico no doente para a mensuração dessa dor com outras técnicas de avaliação e testes.

Se for necessário, exames subsidiários para o diagnóstico e então o tratamento.

Quando o idoso tem dificuldade de se comunicar, como saber se está sentindo dor?
Dra. Roberta Gobeti Delgado – Quando nós tratamos de pacientes com doenças neurodegenerativas ou sequelas de doenças neurológicas, que causam prejuízo de fala ou cognição, fica mais difícil fazer a avaliação da dor.

Dependemos muito da observação de quem convive com o idoso.

É importante notar se o paciente geme ou faz alguma expressão de dor ao urinar, ao evacuar, ao ser tocado em algum lugar do corpo.

Quem convive e está atento percebe quando a pessoa reage diferente.

Dor e qualidade de vida.

Qual é o impacto da dor na vida da pessoa idosa?

Dra. Roberta Gobeti DelgadoControlar a dor é fundamental para a qualidade de vida, ela impacta em tudo, no sono, no apetite, na vontade de viver.

Muitas vezes o próprio idoso encara a dor como se fosse parte obrigatória do envelhecimento, algo natural.

Mas não tem que ser assim, se existe dor, há algo errado e a pessoa precisa buscar tratamento.

O impacto da dor na vida de qualquer pessoa pode prejudicar sua capacidade produtiva, autonomia, humor e otimismo.

Quem tem dor não se sente bem, perde o ânimo e até a autoestima.

Na velhice somos mais sensíveis à dor?

Dra. Roberta Gobeti Delgado – Esta percepção é comum, mas, na verdade, os idosos são menos sensíveis a estímulos dolorosos.

Em estudos sobre dor toráxica, por exemplo, o idoso apresenta o que classificamos como dor atípica.

Geralmente ele relata apenas um incômodo, não uma dor toráxica de forte intensidade, como alguém mais jovem sentiria.

Portanto, quando um idoso se queixa de dor, não podemos negligenciar.

Como a família deve agir diante de queixas de dor do idoso?

Dra. Roberta Gobeti Delgado – A família e os cuidadores nunca devem subestimar as queixas de dores.

Às vezes eu escuto no consultório, ela não faz nada, como pode ter dor aí? Ele não fez nada, fica o dia inteiro sentado. Como pode ter dor?

Temos que levar em consideração que são pessoas com limiar menos sensível a dores.

Se existe essa queixa, é a pessoa que está sentindo.

Nós não podemos tentar mensurar o quadro álgico do paciente, é ele quem sente, deve ser levado em consideração.

A queixa tem de ser investigada.

O cuidador, principalmente de idosos com demência, deve sempre observar se em algum momento o paciente apresenta expressão de dor, cara de bravo, dentes cerrados, se estremece quando é tocado em alguma parte do corpo, se mostra um olhar de reprovação.

A pessoa que já viveu 70, 80 anos, pode ter lesões causadas por sobrecarga articular, diabetes não tratado adequadamente, entre outros problemas.

As consequências aparecem na velhice.

Quais são as consequências quando a dor do idoso é negligenciada?

Dra. Roberta Gobeti Delgado – A pessoa pode desenvolver depressão, doença que está muito associada a quadros de dor.

O paciente não tem ânimo nem vontade de socializar, muitas vezes se isola.

O sono fica prejudicado, comprometendo a capacidade cognitiva, alterando comportamento, reduzindo autonomia e qualidade de vida.

Isso impacta o paciente, a família e o sistema de saúde pública.

O pior é que a pessoa vai ter um prejuízo numa etapa da vida dela que ele poderia ter muito mais qualidade se os problemas fossem tratados no estágio inicial.

O idoso pode tomar qualquer medicamento para dor?

Dra. Roberta Gobeti Delgado – Todos temos que ter cuidado com a automedicação, o idoso ainda mais. Principalmente porque já faz tratamento para o controle de mais de uma doença.

Usar remédio sem orientação pode causar efeitos colaterais indesejados, prejudicar de várias maneiras.

risco para as funções dos rins e do fígado, por exemplo.

Nem analgésico simples deve ser usado sem orientação médica, afinal a dor é um sinal vital importante, um sintoma de que algo está errado.

Tem que investigar e tratar.
Atividade física e convívio social são indispensáveis para uma velhice saudável.

Quem passa muito tempo parado, sem se movimentar, tem mais dores no corpo?

Dra. Roberta Gobeti Delgado – Sim, porque se nos movimentamos pouco perdemos massa muscular.

Isso sobrecarrega os ossos e articulações, e até atrofia de tendões.

Alguns idosos se movimentam pouco por conta de doenças que os deixam acamados ou limitam a mobilidade.

Mas, sempre que possível, todos devemos nos manter ativos.

De preferência fazendo exercícios orientados por profissionais, respeitando os limites e cada um.

É possível reduzir dores crônicas praticando exercícios e fazendo fisioterapia?

Dra. Roberta Gobeti Delgado – Sem dúvida alguma, a realização de fisioterapia e exercícios contribui muito para aliviar dores.

Além disso, ajuda o paciente a ter maior mobilidade e oportunidade de convívio social.

Fazer atividade física é muito eficaz contra dores neuromusculares, melhora a função cardíaca e a função cardiopulmonar.

Ajuda muito.

Que hábitos pode amenizar as dores na velhice?

Dra. Roberta Gobeti Delgado – É preciso adotar uma rotina de vida de qualidade.

Praticar exercícios, buscar convívio social, manter uma atividade fora de casa pra quebrar o isolamento, fazer uma boa higiene do sono e comer bem, sem exageros.

Qual a importância do acompanhamento geriátrico?

Dra. Roberta Gobeti Delgado – O acompanhamento geriátrico é fundamental justamente porque estamos lidando com essas doenças que causam quadro doloroso diariamente.

As queixas dos pacientes não podem ser negligenciadas.

Com o acompanhamento geriátrico é possível identificar os problemas com mais rapidez e tratar logo, evitar complicações e sofrimento.

Muitos pacientes, infelizmente vêm com uma noção de que a dor faz parte da terceira idade e têm que aprender a conviver com isso.

Não é assim, tem que tratar e não desistir de viver com qualidade.

Roberta Gobeti Delgado é médica formada pela Universidade Federal da Grande Dourados (MS).

Passou por especialização em Clínica Médica no Hospital do Coração em Londrina (PR).

Especializou-se em Geriatria na Fanema (Faculdade de Medicina de Marília) (SP).

Faz parte da Equipe de Cuidados Paliativos do Hospital da Zona Sul e atende na QualiMedi Saúde, em Londrina, no Paraná.

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