Como cuidar da saúde emocional abalada pela pandemia?

Ansiedade, depressão e dificuldade no relacionamento familiar. Perguntas e respostas com a psicóloga Katherine Pohl

7 de maio de 2020

Saiba como identificar e enfrentar os problemas de saúde emocional provocados pela pandemia.
Entrevista com a psicóloga Katherine Pohl da equipe QualiMédicos.
Atualizado em 18 de agosto de 2021.

Pandemia

Em março de 2020 o Ministério da Saúde confirmava a transmissão do novo coronavírus no Brasil.

A partir daí assistimos à uma escalada vertiginosa de contágio e mortes.

A pandemia trouxe o luto, o isolamento social, o trabalho e a escola para dentro de casa, obrigou a cancelar nossos planos.

Nesta entrevista a psicóloga Katherine Pohl fala sobre como lidar com o impacto que tanta mudança causou na saúde emocional de adultos e crianças.

As perguntas foram enviadas por seguidores da QualiMedi Saúde.

Como saber se estou tendo crise de ansiedade ou apenas medo de um futuro incerto?

Katherine Pohl - É possível diferenciar. A crise de ansiedade é um momento de pico do transtorno de ansiedade.

Os sintomas são a preocupação excessiva, a sensação de nervos à flor da pele, irritação constante, alimentação e sono afetados.

Pode ainda haver sintomas físicos como palpitações, taquicardia, falta de ar e aperto no peito.

Se você sente esses sintomas de forma intensa frequentemente, tem dificuldade para controlá-los e percebe que eles prejudicam sua qualidade de vida, te paralisam, pode ser de fato o transtorno de ansiedade. Já a ansiedade comum é momentânea, menos intensa, menos frequente.

Você tem mais controle sobre os sintomas que normalmente ocorrem em situações específicas, como uma entrevista de emprego.

Qual a melhor forma de lidar com a ansiedade generalizada?

Katherine Pohl - A pandemia trouxe ansiedade generalizada por causar medos, ao mesmo tempo, na maior parte da população.

Medo de perder o emprego, medo de se contaminar, preocupação com os familiares.

Mas é preciso ter consciência e atuar no que está ao nosso alcance e pode ser feito, como as medidas preventivas.

Não focar tanto nas coisas que fogem do controle.

Alguns hábitos podem ajudar no controle das emoções.
Crie uma rotina.
Destine tempo a uma atividade prazerosa, de preferência na primeira hora do dia.
Os exercícios físicos também contribuem para a saúde emocional, pratique.
Faça exercícios de respiração por 5 a 10 minutos, todos os dias.
Programe pausas durante o trabalho.
Evite o consumo excessivo de notícias sobre a pandemia.
Estabeleça metas, como experimentar uma coisa nova a cada dia, testar receitas ou atividades que nunca fez.
Reserve um tempinho durante o dia para refletir sobre suas questões, a fim de não ter pensamentos excessivos que afastem o sono.
Evite o uso do celular e da TV antes de dormir.

Existe algo que eu possa fazer para melhorar a sensação de desânimo?

Katherine Pohl - É necessário identificar o que antecede os momentos de desânimo intenso.

Reflita sobre as causas e procure mudar, amenizar o impacto.

Lembre o que você fazia antes da pandemia e que te deixava feliz, tente adaptar essa atividade para a nova realidade. Compartilhar sentimentos com familiares e amigos também pode ajudar, mesmo que seja à distância, para desabafar, sentir-se acolhido.

Observe a intensidade e frequência desse desânimo, não deixe que se agrave e evolua para um quadro depressivo. Quando está muito difícil de lidar, devemos buscar ajuda profissional.
Livros motivacionais podem piorar o desânimo? Leio, mas não consigo colocar nada em prática.
Katherine Pohl - Os livros motivacionais podem ajudar sim, mas também podem causar o efeito contrário.

Muitas vezes, ao ler, a pessoa cria um patamar de vida, de sucesso, muito alto.

Ao final acaba se sentindo pior por não conseguir se aproximar desse patamar.

Observe sempre o efeito das coisas que você busca para ajudar. Não hesite em abandonar se te faz mal.

Como explicar às crianças sobre a pandemia e mantê-las ativas com as responsabilidades?

Katherine Pohl – As crianças, na maioria das vezes, têm uma noção de tempo diferente dos adultos, e em situações difíceis, podem achar que aquilo durará para sempre.

É importante explicar que essa situação vai passar.

Mantenha o contato virtual com os parentes, conscientize de forma criativa (contando historinhas por exemplo) sobre a importância do uso da máscara e do álcool em gel.

Para manter as responsabilidades é preciso criar uma rotina para as crianças, estipular horários e, além dos deveres, proporcionar momentos de lazer em família.
Peça ajuda.
Esses são cuidados básicos com a saúde emocional, mas não deixe de procurar ajuda se sentir que não consegue melhorar sozinho.

A pandemia pode ter despertado ou agravado problemas que já existiam.

O acompanhamento profissional de um psicólogo é de grande ajuda para superar as dificuldades.
Katherine Phol
Mestre em Psicologia, com ênfase em psicanálise e cultura.

Aprovada pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) com a tese “A violência sexual na infância: uma leitura psicanalítica sobre o corpo”.

Atuação na área clínica e social. Realiza psicoterapia psicanalítica de crianças e adultos.

Tem experiência na intervenção em contextos de violência sexual, física e psicológica, vulnerabilidade social, acolhimento institucional e adoção.
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