Publicado em janeiro de 2022.
As alterações pulmonares causadas pela Covid-19 exigem acompanhamento médico.
O pneumologista Dr. Otávio Goulart Fan, explica por que em alguns casos a falta de ar persiste meses depois da Covid-19 e alerta para a importância do tratamento precoce.
As alterações pulmonares causadas pela Covid-19 exigem acompanhamento médico.
Pacientes que precisaram de internação hospitalar por causa da doença têm maior chance de desenvolver a chamada Covid longa.
São pessoas que demoram meses a se recuperar dos prejuízos causados pelo vírus.
Um check-up com o pneumologista para avaliar a função pulmonar é essencial.
Dependendo do grau de inflamação nos pulmões e a resposta do organismo de cada um, há risco de sequelas.
A principal delas é a fibrose pulmonar que danifica os tecidos de tal forma que é impossível a regeneração da área afetada.
A boa notícia é que na imensa maioria dos casos os danos causados pela Covid-19 nos pulmões desaparecem após alguns meses de tratamento.
Se você teve Covid e percebe que ainda apresenta sintomas, procure ajuda especializada.
Quais são as queixas mais comuns em relação às alterações pulmonares depois da Covid?
Dr. Otávio Goulart Fan - Algumas pessoas se queixam de cansaço, outras interpretam como falta de ar, mas é o mau funcionamento dos pulmões.
Para alguns o problema só se apresenta em momentos de grandes esforços físicos, mas há casos de pacientes que enfrentam essa dificuldade ao fazer uma atividade leve ou até mesmo em repouso.
Eu não diria que são queixas comuns, mas são as mais preocupantes.
Esse tipo de queixa vem, na maioria das vezes, de pacientes de casos mais graves, de pacientes que tiveram a Covid mais intensa, ficaram internados por longos períodos e até intubados em UTI.
Normalmente a repercussão é maior nestes casos, de pessoas que tiveram 20, 30, 40 e até 50 por cento de comprometimento pulmonar.
Como o novo coronavírus age nos pulmões?
Dr. Otávio Goulart Fan – O novo coronavírus atua de forma semelhante a qualquer vírus respiratório.
Não é diferente do vírus de uma gripe comum, do H1N1, por exemplo, que assolou o mundo há alguns anos.
Ele é semelhante, mas a questão é que por ser um vírus novo e ter uma capacidade de reprodução muito alta, durante o período de infestação, ele provoca uma série de inflamações, ou seja, uma pneumonia viral.
A partir daí podem se instalar outras pneumonias oportunistas causadas por uma bactéria ou fungo.
Ainda mais se o paciente estiver internado no hospital.
A gravidade desta pneumonia vai estar muito relacionada com a intensidade da reação do organismo da pessoa infectada.
Quem tem imunidade boa, reage e controla.
Que tem imunidade muito exagerada ou nenhuma imunidade, pode sofrer consequências mais sérias.
As inflamações dos alvéolos (onde ocorre a troca de gás carbônico por oxigênio) fazem com que os pulmões fiquem edemaciados, ou seja, inchados.
Isso impede a troca de gases e a oxigenação do corpo.
O paciente tem que respirar mais rápido para compensar, muitas vezes precisa ser intubado e pode não sobreviver, como aconteceu com mais de 600 mil brasileiros durante a pandemia.
Dr. Otávio Goulart Fan – Qualquer pneumonia grave pode deixar sequelas.
O que é peculiar na Covid é a forma lenta da recuperação e o fato de que, muito raramente, o paciente consegue se recuperar sem ajuda.
A pessoa precisa de tratamento médico e fisioterápico.
Por quanto tempo os sintomas da Covid longa persistem?
Dr. Otávio Goulart Fan – Na maioria dos casos o paciente tem que fazer tratamento com remédios e fisioterapia por um período de 3 a 6 meses.
Se não fizer tratamento, os sintomas podem tornar-se crônicos.
Quando é maior o risco de sequela da Covid?
Dr. Otávio Goulart Fan – Pessoas com alguma comorbidade, como idade superior a 65 anos, pressão alta ou diabetes, que tiveram uma infecção grave de Covid, têm maior chance de ficar com sequelas porque já tinham um organismo mais debilitado.
Mas durante a pandemia aprendemos que não existem regras.
Pessoas fragilizadas passaram bem pela doença, quase sem sintomas.
E o contrário também aconteceu.
Tivemos vítimas com menos de 30 anos, até atletas, que morreram.
A fibrose pulmonar pode surgir depois da Covid?
Dr. Otávio Goulart Fan – A fibrose pulmonar pode ocorrer.
É importante que o paciente seja acompanhado por um médico para verificar se o problema existe.
Para isso fazemos alguns exames de tomografia em diferentes etapas do tratamento.
A fibrose acontece quando a parte do pulmão acometida pela inflamação não se regenera, surge uma cicatriz no local, como acontece na pele, depois de um corte.
Dependendo do tamanho da fibrose, do percentual de comprometimento dos pulmões, o paciente fica dependente de oxigênio, de respiradores.
Como a fibrose é algo definitivo, se houver, por exemplo, 70% de comprometimento do pulmão, a solução é bem mais complexa.
Já temos alguns casos no Brasil e no mundo de transplante de pulmão por causa da fibrose.
Felizmente esse tipo de caso é raro.
O tratamento médico e fisioterápico precoce é a forma de evitar o desenvolvimento da fibrose pulmonar.
Dr. Otávio Goulart Fan – O diagnóstico é baseado principalmente em exames de imagem, sendo que o mais adequado é a tomografia de tórax.
Ela consegue indicar o percentual de comprometimento dos pulmões com precisão.
Outro recurso fundamental para o diagnóstico é a prova de função pulmonar.
A espirometria é um exame aplicado normalmente pelo fisioterapeuta e analisado em conjunto com o médico.
O paciente sopra num aparelho e um computador mede a capacidade pulmonar, respeitando parâmetros esperados para o perfil do paciente, levando em conta sexo, idade e altura.
Também temos o teste de esforço, com caminhada de 6 minutos; a medição do oxigênio no sangue; o exame de difusão de monóxido de carbono, realizado dentro de uma cabine; e exames de sangue, necessários em alguns casos.
Como é feito o tratamento de pacientes com alterações pulmonares depois da Covid?
Dr. Otávio Goulart Fan – O objetivo do tratamento com remédios é otimizar as partes do pulmão que não foram atingidas pela Covid.
A área prejudicada precisa de descanso.
Pra ficar mais claro, suponha que o caso é de 40 por cento de acometimento pulmonar, trabalhamos na otimização dos outros 60 por cento.
Assim facilitamos a recuperação total.
O tratamento consiste em desinflamar os pulmões.
Para isso usamos corticoides inalatórios em aerossol, aplicados com bombinhas.
Eles têm ação bem localizada e por isso não geram tantos efeitos colaterais como os corticoides de uso oral, aqueles que a gente engole.
Também usamos broncodilatadores, medicamentos que abrem os brônquios daquela parte do pulmão que está boa. Além de tratamentos para fluidificar as secreções que surgem por causa da inflamação e facilitar a expectoração.
Já o fisioterapeuta vai trabalhar com os músculos da respiração, orientar modos de respirar.
Vai ensinar até a pessoa a se deitar de maneira a favorecer a parte boa do pulmão.
É um tratamento multiprofissional.
Qual é o impacto da sequela de Covid na vida da pessoa? Vai ter que se tratar pra sempre?
Dr. Otávio Goulart Fan – A doença ainda é muito recente e não podemos afirmar se é algo que vai prejudicar a pessoa para o resto da vida.
Em alguns pacientes, temos a impressão de que é uma sequela permanente.
Felizmente é uma minoria.
O tempo de tratamento varia muito, depende da gravidade da Covid e da resposta individual ao tratamento.
De um modo geral, pessoas que chegam ao consultório com alguma falta de ar, mas caminhando, conseguem resolver o problema em até seis meses, na média.
Agora muitos pacientes estão retornando ao consultório depois daquela onda forte de casos em maio de 2021. Felizmente, na maioria dos casos, já podemos interromper o tratamento porque o paciente se recuperou.
Toda pessoa que teve Covid deve fazer um check-up com pneumologista?
Dr. Otávio Goulart Fan - A maioria dos pacientes com sequelas teve a forma grave da Covid, mas há registros de casos mais leves que apresentaram consequências tardias.
Portanto, é recomendado que todos passem pelo check-up, principalmente se a pessoa tem comorbidades.
Por menor que seja o dano aos pulmões é importante recuperá-los.
É importante que o diagnóstico e o tratamento sejam precoces?
Dr. Otávio Goulart Fan – O tratamento tem que começar o quanto antes.
No início da pandemia, naturalmente, todo mundo ficou focado nos pacientes graves.
Hoje sabemos como é importante a reabilitação e o acompanhamento de todos os casos.
O risco da Covid ainda é grande?
Dr. Otávio Goulart Fan – Precisamos nos cuidar, afinal temos novas variantes do vírus, nada de relaxar.
A máscara veio pra ficar, pelo menos para os próximos anos.
Caso necessário, procurem ajuda médica, façam o tratamento e tenham paciência.
Leva tempo, mas passa.
Otávio Goulart Fan é cirurgião torácico, professor assistente da Universidade Estadual de Londrina, especialista em Ciência da Reabilitação e integrante da equipe da QualiMedi Saúde.
Toda dor deve ser investigada e tratada, não devemos aceitar como algo natural da velhice.
Publicado em janeiro de 2022.
A dor crônica no idoso pode ser causa ou consequência de alguma doença.
O acompanhamento geriátrico preserva a qualidade de vida.
Dor no idoso não é normal.
É verdade que conforme o tempo passa, vamos sentindo o tal peso da idade.
Nosso corpo começa a apresentar mais problemas de saúde e limitações.
Mas isso não significa que devemos nos conformar em viver com dor.
Infelizmente, é comum que as dores seja negligenciadas na velhice, pelo próprio idoso e pela família.
Por causa desse comportamento, algo que poderia ser resolvido com ajuda médica, pode se complicar e tornar-se um problema crônico, causando sofrimento físico e emocional.
Conversamos com a geriatra Roberta Gobeti Delgado, da QualiMedi Saúde, sobre as causas mais comuns de dor na velhice, a importância de estarmos atentos ao sinais do corpo e do acompanhamento médico.
O que é dor?
Dra. Roberta Gobeti Delgado – Nos baseando na definição de uma associação internacional para estudo de dor, podemos dizer que é uma sensação, uma experiência emocional desagradável, associada a um dano tecidual orgânico, real ou potencial de ocorrer.
A dor é o nosso quinto sinal vital, importante como a respiração, o pulso, a pressão arterial e a temperatura corporal. É o seu corpo dizendo que algo está errado, não faz parte do normal.
Não é normal para terceira idade ter dor.
Tem alguma coisa errada que deve ser diagnosticada e tratada.
A dor faz parte do envelhecimento?
Dra. Roberta Gobeti Delgado - A dor faz parte das doenças do envelhecimento.
É uma grande síndrome que se torna frequente quando chegamos à terceira idade.
Faz parte do envelhecimento adoecer, por isso ter dor, infelizmente, é muito comum.
A dor crônica está presente em mais da metade dos idosos institucionalizados.
Por que são institucionalizados?
Não, mas porque são, em números significativos, pacientes com mais fragilidades, com maiores comorbidades, que têm um convívio social diferente.
Dra. Roberta Gobeti Delgado – Problemas orgânicos e problemas psiquiátricos levam à quadros dolorosos na velhice.
A dor pode ser a causa ou a consequência de transtornos depressivos.
Muitas vezes o problema psiquiátrico surge a partir de um quadro primário de dor.
Se a pessoa sente dor por longos períodos pode acabar entrando em depressão.
A degeneração muscular e articular também gera muitos processos de dor.
Pacientes que ao longo da vida se dedicaram a trabalhos manuais e braçais, acabam desenvolvendo com mais frequência síndromes dolorosas.
Problemas osteomusculares, como osteoporose, osteoartrite e doenças reumatológicas em geral, são causas comuns de dor no idoso.
São doenças que se geralmente surgem ou se agravam na terceira idade.
Vários tipos de câncer também estão entre as doenças frequentes na velhice e são causa importante de dor.
E temos ainda as doenças metabólicas, como o diabetes que, se não controlado, pode causar neuropatia (danos aos nervos de mãos e pés) resultando em quadros extremos de dor.
Existe uma classificação médica de intensidade de dor?
Dra. Roberta Gobeti Delgado – A intensidade da dor é algo extremamente subjetivo.
O médico até tenta fazer uma régua de dor, usando uma escala onde zero significa paciente totalmente sem dor e 10 sendo algo insuportável, uma dor totalmente incapacitante.
Porém, isso varia muito de pessoa a pessoa.
Alguém que não tinha dor nenhuma e de repente passa a ter um quadro agudo de dores, vai classificar a situação como insuportável.
Já uma pessoa que convive com dores leves, mas crônicas, pode não se surpreender tanto quando a intensidade aumenta.
O importante é observar como a dor impacta no dia a dia da pessoa, na sua qualidade de vida.
Qual é a conduta adequada quando o idoso começa a se queixar de dor?
Dra. Roberta Gobeti Delgado - Primeiro precisamos definir que tipo de dor está se manifestando (muscular, metabólica, neuropática) e a causa dela.
Tratamos o paciente para aliviar a dor o mais rápido possível, mas sempre investigando a origem do problema.
Temos que tratar a doença de base e não só o sintoma.
Inicialmente fazemos uma avaliação ampla para compreender o histórico da dor e também o exame físico no doente para a mensuração dessa dor com outras técnicas de avaliação e testes.
Se for necessário, exames subsidiários para o diagnóstico e então o tratamento.
Quando o idoso tem dificuldade de se comunicar, como saber se está sentindo dor?
Dra. Roberta Gobeti Delgado – Quando nós tratamos de pacientes com doenças neurodegenerativas ou sequelas de doenças neurológicas, que causam prejuízo de fala ou cognição, fica mais difícil fazer a avaliação da dor.
Dependemos muito da observação de quem convive com o idoso.
É importante notar se o paciente geme ou faz alguma expressão de dor ao urinar, ao evacuar, ao ser tocado em algum lugar do corpo.
Quem convive e está atento percebe quando a pessoa reage diferente.
Qual é o impacto da dor na vida da pessoa idosa?
Dra. Roberta Gobeti Delgado – Controlar a dor é fundamental para a qualidade de vida, ela impacta em tudo, no sono, no apetite, na vontade de viver.
Muitas vezes o próprio idoso encara a dor como se fosse parte obrigatória do envelhecimento, algo natural.
Mas não tem que ser assim, se existe dor, há algo errado e a pessoa precisa buscar tratamento.
O impacto da dor na vida de qualquer pessoa pode prejudicar sua capacidade produtiva, autonomia, humor e otimismo.
Quem tem dor não se sente bem, perde o ânimo e até a autoestima.
Na velhice somos mais sensíveis à dor?
Dra. Roberta Gobeti Delgado – Esta percepção é comum, mas, na verdade, os idosos são menos sensíveis a estímulos dolorosos.
Em estudos sobre dor toráxica, por exemplo, o idoso apresenta o que classificamos como dor atípica.
Geralmente ele relata apenas um incômodo, não uma dor toráxica de forte intensidade, como alguém mais jovem sentiria.
Portanto, quando um idoso se queixa de dor, não podemos negligenciar.
Dra. Roberta Gobeti Delgado – A família e os cuidadores nunca devem subestimar as queixas de dores.
Às vezes eu escuto no consultório, ela não faz nada, como pode ter dor aí? Ele não fez nada, fica o dia inteiro sentado. Como pode ter dor?
Temos que levar em consideração que são pessoas com limiar menos sensível a dores.
Se existe essa queixa, é a pessoa que está sentindo.
Nós não podemos tentar mensurar o quadro álgico do paciente, é ele quem sente, deve ser levado em consideração.
A queixa tem de ser investigada.
O cuidador, principalmente de idosos com demência, deve sempre observar se em algum momento o paciente apresenta expressão de dor, cara de bravo, dentes cerrados, se estremece quando é tocado em alguma parte do corpo, se mostra um olhar de reprovação.
A pessoa que já viveu 70, 80 anos, pode ter lesões causadas por sobrecarga articular, diabetes não tratado adequadamente, entre outros problemas.
As consequências aparecem na velhice.
Quais são as consequências quando a dor do idoso é negligenciada?
Dra. Roberta Gobeti Delgado – A pessoa pode desenvolver depressão, doença que está muito associada a quadros de dor.
O paciente não tem ânimo nem vontade de socializar, muitas vezes se isola.
O sono fica prejudicado, comprometendo a capacidade cognitiva, alterando comportamento, reduzindo autonomia e qualidade de vida.
Isso impacta o paciente, a família e o sistema de saúde pública.
O pior é que a pessoa vai ter um prejuízo numa etapa da vida dela que ele poderia ter muito mais qualidade se os problemas fossem tratados no estágio inicial.
O idoso pode tomar qualquer medicamento para dor?
Dra. Roberta Gobeti Delgado – Todos temos que ter cuidado com a automedicação, o idoso ainda mais. Principalmente porque já faz tratamento para o controle de mais de uma doença.
Usar remédio sem orientação pode causar efeitos colaterais indesejados, prejudicar de várias maneiras.
Há risco para as funções dos rins e do fígado, por exemplo.
Nem analgésico simples deve ser usado sem orientação médica, afinal a dor é um sinal vital importante, um sintoma de que algo está errado.
Tem que investigar e tratar.
Atividade física e convívio social são indispensáveis para uma velhice saudável.
Quem passa muito tempo parado, sem se movimentar, tem mais dores no corpo?
Dra. Roberta Gobeti Delgado – Sim, porque se nos movimentamos pouco perdemos massa muscular.
Isso sobrecarrega os ossos e articulações, e até atrofia de tendões.
Alguns idosos se movimentam pouco por conta de doenças que os deixam acamados ou limitam a mobilidade.
Mas, sempre que possível, todos devemos nos manter ativos.
De preferência fazendo exercícios orientados por profissionais, respeitando os limites e cada um.
É possível reduzir dores crônicas praticando exercícios e fazendo fisioterapia?
Dra. Roberta Gobeti Delgado – Sem dúvida alguma, a realização de fisioterapia e exercícios contribui muito para aliviar dores.
Além disso, ajuda o paciente a ter maior mobilidade e oportunidade de convívio social.
Fazer atividade física é muito eficaz contra dores neuromusculares, melhora a função cardíaca e a função cardiopulmonar.
Ajuda muito.
Dra. Roberta Gobeti Delgado – É preciso adotar uma rotina de vida de qualidade.
Praticar exercícios, buscar convívio social, manter uma atividade fora de casa pra quebrar o isolamento, fazer uma boa higiene do sono e comer bem, sem exageros.
Qual a importância do acompanhamento geriátrico?
Dra. Roberta Gobeti Delgado – O acompanhamento geriátrico é fundamental justamente porque estamos lidando com essas doenças que causam quadro doloroso diariamente.
As queixas dos pacientes não podem ser negligenciadas.
Com o acompanhamento geriátrico é possível identificar os problemas com mais rapidez e tratar logo, evitar complicações e sofrimento.
Muitos pacientes, infelizmente vêm com uma noção de que a dor faz parte da terceira idade e têm que aprender a conviver com isso.
Não é assim, tem que tratar e não desistir de viver com qualidade.
Roberta Gobeti Delgado é médica formada pela Universidade Federal da Grande Dourados (MS).
Passou por especialização em Clínica Médica no Hospital do Coração em Londrina (PR).
Especializou-se em Geriatria na Fanema (Faculdade de Medicina de Marília) (SP).
Faz parte da Equipe de Cuidados Paliativos do Hospital da Zona Sul e atende na QualiMedi Saúde, em Londrina, no Paraná.
A dor causada pelo deslocamento de pedras nos rins é terrível.
Em alguns casos é preciso fazer cirurgia para retirar os cálculos renais.
Publicado em dezembro de 2021.
Quem toma pouca água aumenta o risco de desenvolver pedras nos rins.
Ter pedras nos rins (cálculos renais) é um problema comum que pode trazer consequências sérias quando não tratamos adequadamente.
As causas estão associadas a diversos fatores como hereditariedade, urinar pouco, ter desequilíbrios metabólicos ou alterações anatômicas.
É possível que a pessoa demore a perceber a presença de pedras nos rins até que elas se desloquem e provoquem a temida cólica renal.
As dores nas costas são intensas, irradiam para o abdômen e provocam náusea.
Expelir o cálculo renal é algo que pode acontecer naturalmente, dependendo do tamanho e localização.
Mas, em muitos casos, é necessário tratamento médico, inclusive intervenção cirúrgica.
Por isso, quem descobre que possui pedras nos rins ou na vesícula deve fazer acompanhamento com especialista para evitar complicações graves.
Cuidar da alimentação e beber muita água é o melhor remédio para quem quer se prevenir.
Saiba mais sobre pedras nos rins na entrevista com Raquel Ferreira Nassar Frange, nefrologista (médica especializada no diagnóstico e tratamento das doenças do sistema urinário), da QualiMedi Saúde.
Entrevista: Raquel Ferreira Nassar Frange, nefrologista.
O que é o cálculo renal?
Dra. Raquel Ferreira Nassar Frange - Litíase renal ou cálculo renal são os termos médicos para designar as famosas pedras nos rins.
Por que a composição do cálculo varia?
Dra. Raquel Ferreira Nassar Frange - Os cálculos são formados a partir do excesso ou redução de determinado componente no sangue e na urina.
Os principais cálculos são os de cálcio, mas também podemos ter de ácido úrico, cistina, estruvita.
Quais são as causas mais comuns de cálculos renais?
Dra. Raquel Ferreira Nassar Frange - A composição do cálculo indica as principais causas do problema.
Começando pelo cálculo mais comum, que é o de cálcio.
As principais causas são: hipercalciúria (excesso de cálcio na urina); hiperuricosúria (aumento de ácido úrico na urina); hipocitratúria (diminuição da excreção de citrato na urina); hiperoxalúria (aumento da excreção urinária de oxalato) e ainda em razão de baixo volume de urina.
Por que ocorre esse desequilíbrio que provoca as pedras nos rins?
Dra. Raquel Ferreira Nassar Frange – Um conjunto de fatores contribui para o desequilíbrio que leva à formação das pedras.
Ter uma dieta alimentar com excesso de proteína animal, muito sódio (sal, refrigerantes, produtos industrializados). Beber pouca água e não praticar exercícios são comportamentos de risco.
Mas o problema também pode ser consequência de distúrbios metabólicos, alterações anatômicas, herança genética, entre outros.
Dra. Raquel Ferreira Nassar Frange – Os cálculos podem se formar fora dos rins, como por exemplo os cálculos de via biliar.
As famosas pedras na vesícula.
O que provoca o deslocamento dos cálculos renais e qual é a localização mais frequente?
Dra. Raquel Ferreira Nassar Frange - Os cálculos podem estar presentes por toda a via urinária, desde o rim até a uretra.
O mais comum é estarem dentro dos rins.
O deslocamento dos cálculos dos rins é o que costuma causar a dor da cólica renal, a causa desse deslocamento não são claras.
Dizem que pior que dor de parto, só cólica renal.
Por que dói tanto?
Dra. Raquel Ferreira Nassar Frange - O que causa a dor não é a presença do cálculo dentro do rim e sim seu deslocamento e possível obstrução nas vias urinárias.
Como essas estruturas são ricamente inervadas, a dilatação pela obstrução leva a uma dor aguda, intensa e inesquecível.
Cálculos na vesícula biliar provocam dor também?
Dra. Raquel Ferreira Nassar Frange - Sim, inclusive podem evoluir para doença grave.
Todo paciente com cálculo biliar deve ser acompanhado por especialista.
Que outros sintomas indicam presença de cálculos renais?
Dra. Raquel Ferreira Nassar Frange - Além da dor lombar, a presença de sangue na urina pode indicar cálculo renal. Mas em muitos casos o quadro é assintomático, ou seja, não provoca nenhum sintoma.
Quanto menor o tamanho e maior a quantidade de cálculos mais perigoso?
Dra. Raquel Ferreira Nassar Frange - Não necessariamente, precisamos investigar a causa de formação, tamanho do cálculo e localização para avaliar essa questão.
Quais os riscos de ter cálculo renal de repetição? O quadro pode levar a perda de função renal?
Dra. Raquel Ferreira Nassar Frange - Os riscos de recorrência são de 50% aproximadamente, num prazo de 5 anos.
E a depender da gravidade da obstrução, do tamanho e da causa da formação do cálculo, se está ou não associado com infecção da urina, pode sim levar a perda de função renal.
No começo a doença é assintomática? Como descobrir o problema logo no início?
Dra. Raquel Ferreira Nassar Frange - Infelizmente se a doença é assintomática, apenas um exame de imagem, como um ultrassom ocasional, poderia mostrar a presença de cálculo.
Dra. Raquel Ferreira Nassar Frange - Temos atualmente medicações para tratamento a depender da causa de formação do cálculo.
Porém se o cálculo é muito grande, encaminhamos para o urologista, a fim de avaliar necessidade cirúrgica.
Quando é preciso operar?
Dra. Raquel Ferreira Nassar Frange - Cálculos maiores que 0,6 cm precisam ser acompanhados por urologista.
E normalmente vão precisar de intervenção cirúrgica, principalmente quando causam obstrução.
Como evitar as pedras nos rins?
Dra. Raquel Ferreira Nassar Frange - Mantendo um estilo de vida saudável, principalmente com alimentação equilibrada, evitando excesso de sódio, evitando excesso de proteína animal e ingerindo em média de 2-3 litros de água por dia.
Chá quebra pedra funciona ou não há recomendação científica?
Dra. Raquel Ferreira Nassar Frange - Não existe comprovação científica quanto a eficiência dessas misturas.
O que ajuda a evitar a formação dos cálculos é o consumo de água!
Raquel Ferreira Nassar Frange é médica graduada pela Universidade Estadual de Londrina (2015).
Membro da Sociedade Brasileira de Nefrologia.
Fez Residência Médica no programa de Clínica Médica do Hospital Evangélico de Londrina/ Pontifícia Universidade Católica do Paraná - Campos Londrina (2016-2017).
Residência Médica no programa de Nefrologia pelo Instituto do Rim de Londrina / Sociedade Brasileira de Nefrologia/ Hospital Evangélico de Londrina (2018-2019).
É Coordenadora do estágio de urgências e emergências médicas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná - Londrina - Pronto Socorro Médico do Hospital Evangélico de Londrina.
Médica Plantonista da Unidade de Cuidados Intensivos - UTI 1,2,3 e UCO - Hospital Evangélico de Londrina, Médica Plantonista do Pronto Socorro Médico - Hospital Evangélico de Londrina.
Médica Plantonista da Unidade de Cuidados Intensivos - UTI - Hospital Araucária de Londrina.
Médico da Enfermaria Clínica - Hospital Dr. Anísio Figueiredo - Hospital Zona Norte de Londrina.
Faz parte da equipe da QualiMedi Saúde em Londrina.
A síndrome pós-Covid faz pacientes se sentirem mal meses depois do contato com o novo coronavírus.
Publicado em 1 de dezembro de 2021.
O check-up cardiológico é um cuidado necessário para aqueles que tiveram Covid-19.
Mesmo quem não tinha nenhum problema cardíaco antes da contaminação pelo vírus deve consultar o especialista.
Os efeitos da chamada síndrome pós-Covid ainda estão sendo estudados, mas já ficou evidente que o organismo demora a se recuperar do estrago provocado pelo novo coronavírus.
No consultório médico as queixas de mal-estar são frequentes.
A síndrome se manifesta em sintomas diversos e que permanecem muito além da fase aguda da doença.
As mudanças no olfato e paladar são muito comuns em todos os casos.
Já pacientes que tiveram a forma moderada ou grave da Covid-19 relatam consequências mais graves.
Eles não têm mais a mesma disposição.
Enfrentam fraqueza muscular, fadiga, falta de ar e dores pelo corpo.
Alguns também sofrem com lapsos de memória, dificuldade de raciocínio e transtornos emocionais.
É importante procurar ajuda médica para acompanhar a recuperação e tratar os problemas que podem ser temporários, ou, infelizmente, sequelas definitivas.
Entre os cuidados pós-Covid, o check-up cardiológico é fundamental.
Veja por que na entrevista com o Fuad Salle Neto, cardiologista na QualiMedi Saúde.
Qual a relação entre COVID-19 e doenças cardiovasculares?
Dr. Fuad Salle Neto - Tanto a Covid-19 é um fator de risco para desenvolver ou agravar doenças cardiovasculares, quanto os problemas cardíacos tornam a pessoa mais vulnerável ao novo coronavírus, com maior risco de apresentar a forma mais grave da doença.
Portanto a relação entre Covid e problemas cardíacos é estreita.
Quais são os problemas cardíacos relacionados à Covid-19?
Dr. Fuad Salle Neto - A Covid-19 é uma doença inflamatória sistêmica que dificulta muito a função cardíaca.
Afeta vários sistemas do corpo como circulatório, cardíaco, neurológico, imunológico e, com destaque, os pulmões. A pneumonia e tromboses pulmonares acabam afetando muito o coração.
Mas também pode haver danos diretos ao órgão.
A pessoa que já tem um problema cardíaco corre um risco bem mais elevado de ter a forma grave da doença.
Uma parcela grande dos doentes com Covid tem morte por arritmia ou falência cardíaca.
Não são poucos.
Também não é raro apresentar outros problemas circulatórios como infarto, trombose das veias e embolia pulmonar.
Dr. Fuad Salle Neto – Sim.
Pessoas que não tinham problema algum desenvolveram insuficiência cardíaca depois de ter Covid.
Houve um enfraquecimento do músculo cardíaco, ou seja, a pessoa apresentou o que chamamos de miocardite.
Em alguns pacientes será um problema temporário e em outros uma sequela, um quadro permanente.
Estou acompanhando pacientes em que esse quadro ainda não regrediu após meses da contaminação pelo novo coronavírus.
Além desse problema no músculo cardíaco, temos prejuízos de ordem vascular.
O paciente que sofre infarto, como ocorre com muitos doentes graves de Covid, tem sempre algum grau de dano permanente.
É claro que ainda precisamos observar por mais tempo, dois ou três anos pelo menos, para ter a noção exata das consequências que o vírus traz para o organismo a longo prazo.
Além disto, novas variantes do vírus podem vir e ainda trazer outros panoramas.
Quem tem, por exemplo, colesterol alto, está no grupo de risco para a forma mais grave da Covid-19? Por quê?
Dr. Fuad Salle Neto - Não vi nenhum estudo específico sobre a relação do colesterol alto e a Covid, mas pacientes com problema no colesterol geralmente estão entre aquelas pessoas com síndrome metabólica.
O quadro geralmente inclui diabetes, pressão alta e obesidade.
Quem tem esse perfil faz parte de um grupo de risco que é um dos mais acometidos pela forma grave da Covid.
A obesidade, fator de risco para a saúde cardiovascular, se tornou uma preocupação ainda maior com a chegada do novo coronavírus?
Dr. Fuad Salle Neto - Pacientes obesos tendem a desenvolver mais a forma grave de Covid-19.
A obesidade, entre outras coisas, dificulta o processo de ventilação mecânica do paciente que necessita de assistência ventilatória.
É mais difícil controlar a insuficiência respiratória do obeso quando entubado.
Este é um dos grupos com maior índice de mortalidade.
Dr. Fuad Salle Neto – Os cardiologistas estão atendendo muitos pacientes com o que chamamos de síndrome pós-Covid.
A pessoa sente falta de ar, dor no peito e palpitação que pode ser sinal de arritmia cardíaca.
São pacientes com alteração cardíaca e pulmonar residual, em alguns pode persistir e se tornar uma sequela mais definitiva.
O enfraquecimento muscular também é importante, no pós-Covid a pessoa tem fadiga, se cansa mais facilmente.
Por que a fadiga persiste em pacientes que tiveram Covid-19?
Dr. Fuad Salle Neto – A fadiga é relativamente comum em pacientes que tiveram a forma moderada ou grave da doença.
Cerca de 60% deles ainda sofrem com sintomas mesmo depois de 2 meses da fase aguda da Covid.
Isso acontece porque a doença pode afetar nosso organismo como um todo.
Ela ataca os sistemas respiratório, cardíaco, vascular, neurológico, digestivo, renal e muscular.
Há um sofrimento prolongado dos órgãos.
Dr. Fuad Salle Neto – Os pacientes realmente deixaram de fazer exames e acompanhamento por medo de contaminação e até por orientação de responsáveis pela saúde pública.
As consequências mais comuns entre os pacientes foram alterações na pressão arterial e ganho de peso.
Mesmo imunizados quem tem problema cardíaco deve tomar mais cuidado comparado a população em geral?
Dr. Fuad Salle Neto - Acredito que todos nós ainda devemos tomar muito cuidado, não só os cardiopatas, mas as pessoas em geral.
Ainda temos que respeitar as medidas de segurança.
Evitar aglomeração, usar máscara, lavar as mãos.
Tudo isso ainda tem que continuar.
Não podemos relaxar ainda.
Qual a importância de fazer a imunização completa contra o novo coronavírus?
Dr. Fuad Salle Neto – A importância da vacinação contra a Covid-19 está demonstrada pela redução no número de casos e de mortes.
A vacinação trouxe um resultado inquestionável.
Em relação a casos graves houve uma redução muito grande.
Temos que avançar ainda mais sem descuidar inclusive da dose de reforço, que é fundamental.
Fuad Salle Neto é cardiologista na QualiMedi Saúde, em Londrina, no Paraná.
Ansiedade e depressão na velhice são frequentes e exigem tratamento médico.
Pouca conversa e desânimo não são naturais da idade, mas sintomas de doenças emocionais, como a ansiedade e a depressão.
Publicado em 3 de novembro de 2021.
O geriatra, médico especialista na saúde do idoso, orienta o paciente e a família em casos de ansiedade e depressão na terceira idade.
Dados oficiais dão conta de que 5,8% dos brasileiros sofrem com depressão.
De acordo com uma pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), na faixa etária entre 60 e 64 anos o percentual quase dobra, sobe para 11,1%.
Os sinais de depressão e ansiedade no idoso podem ser tomados como coisas naturais da velhice, mas não são.
É possível tratar com medicamentos, terapia e fazendo ajustes no ambiente familiar e social para que a pessoa se sinta melhor e mais forte.
O geriatra, médico especializado na saúde da pessoa idosa, também está capacitado para o diagnóstico de problemas emocionais, o tratamento e a orientação para o paciente e sua família.
Causas físicas e acontecimentos sociais afetam a saúde emocional do idoso.
Conversamos com a geriatra Roberta Gobeti Delgado, que faz parte da equipe da QualiMedi Saúde, sobre sintomas e tratamento para depressão e ansiedade no idoso.
Qual é a diferença entre ansiedade e depressão?
Dra. Roberta Gobeti Delgado - São duas doenças diferentes e muito comuns hoje em dia, mas que acompanham a humanidade desde os primórdios.
Muita gente acaba confundindo uma com a outra.
Pode ocorrer inclusive de uma pessoa ter os dois problemas simultaneamente.
Comparando os sintomas fica mais fácil perceber a diferença.
Um quadro de depressão provoca pensamentos de tristeza, visão negativa da vida, muita culpa, baixa autoestima, sensação de ser inútil e mal-estar físico, mesmo sem um motivo aparente.
A pessoa fica desanimada, perde o engajamento para realizar as atividades do cotidiano.
Já num quadro clássico de ansiedade a pessoa sente medo de alguma coisa.
Medo de não representar tudo aquilo que acha que deveria ser.
Existe uma cobrança muito grande dela para consigo mesma.
A ansiedade gera uma aflição imensa, por exemplo, diante de tarefas com prazo definido para serem concluídas.
O pensamento do ansioso é desorganizado e ele se frustra frequentemente porque não consegue realizar as atividades às quais se propõe.
Tanto a depressão quando a ansiedade, muitas vezes por falta de informação, não são percebidas como doenças. Infelizmente, muitas pessoas ainda pensam que se sentir assim é natural e deixam de buscar apoio e tratamento.
Falta também empatia para com o deprimido e o ansioso.
Ansiedade e depressão são problemas comuns na velhice?
Dra. Roberta Gobeti Delgado - Ansiedade e depressão são muito comuns na terceira idade.
Isso está relacionado a fatores orgânicos (fisiológicos e neurológicos) e a acontecimentos sociais comuns nesta fase da vida.
A produção dos neurotransmissores, que são os mensageiros do nosso corpo, sofrem alterações depois dos 60 anos.
A redução de substâncias químicas como a serotonina, a adrenalina e a noradrenalina, causa grande impacto.
Essas substâncias são responsáveis pela nossa disposição em realizar tarefas, lidar com estresse, sentir alegria, entre outras coisas.
Por isso o envelhecimento reduz a nossa capacidade de lidar e sustentar a mesma carga de estresse da juventude. Ficamos mais vulneráveis a desenvolver quadros ansiosos e depressivos.
A senhora falou em acontecimentos sociais que podem desencadear depressão na terceira idade. Quais são?
Dra. Roberta Gobeti Delgado - Entre os acontecimentos que causam depressão no idoso estão o abandono e o distanciamento da família.
A perda de um ente querido também é comum nesta faixa etária e de difícil superação.
Acontecimentos traumáticos, como um assalto por exemplo, podem servir de gatilho para a doença.
E o estresse também tem grande impacto.
Se o idoso é um cuidador, situação comum hoje em dia, ele tem mais dificuldade para lidar com a situação.
É uma sobrecarga emocional que pode resultar em depressão.
E tem ainda o desafio de lidar com as transformações do mundo, se sentir inapto para viver uma realidade que muda com tanta velocidade.
Tudo isso pode trazer desânimo, tristeza e evoluir para um quadro depressivo.
Quais são as causas da ansiedade?
Dra. Roberta Gobeti Delgado - As causas de ansiedade estão ligadas frequentemente a um grau elevado de cobrança.
A própria pessoa se cobra demais, tem medo de não entregar tudo aquilo que acredita que estão esperando dela.
O ansioso cria uma expectativa muito grande em relação à opinião dos outros, teme decepcionar.
Ansiedade está associada a baixa autoestima, a crer que não é capaz.
No mundo atual vivemos numa velocidade inédita, temos que fazer e entregar tudo com rapidez, isso gera ansiedade. Quem nunca sentiu aquele frio na barriga porque está chegando uma data importante, o fim de um prazo para entregar ou fazer algo?
Quando isso ocorre de vez em quando, tudo bem.
Mas se passa a ser frequente complica demais a vida, a ansiedade deixa de ser um simples sintoma e se torna um transtorno que deve ser tratado.
Dra. Roberta Gobeti Delgado - A ansiedade na pessoa idosa pode ser percebida de várias maneiras.
Um dos sintomas mais comuns em quadros de ansiedade na velhice é a alteração de memória.
O ansioso normalmente acaba desorganizando o pensamento e perde a clareza de raciocínio.
Ele vive frustrado e preocupado com as tarefas e acontecimentos.
Ele perde a calma, fica distraído e confuso.
Isso pode provocar desde um problema corriqueiro, como se esquecer de onde guardou alguma coisa, até um acidente de trânsito.
O pensamento ansioso, acelerado, também tira o sono, faz a pessoa acordar várias vezes durante a noite e isso frequentemente afeta a memória.
Quais são os sintomas de depressão no idoso?
Dra. Roberta Gobeti Delgado - Os sintomas de depressão no paciente idoso não diferem muito dos jovens, mas tem algumas especificidades.
Geralmente o idoso deprimido fica introspectivo e sofre alteração de memória.
A pessoa perde o ânimo para se relacionar, é algo involuntário.
Não toma iniciativa de ligar pra alguém e conversar, não se interessa por quase que nenhuma atividade, se aquieta demais.
Pessoas depressivas podem também somatizar doenças.
Sentir dores fortes no peito, por exemplo, mesmo sem ter problema cardíaco.
Elas ficam realmente esgotadas, com baixa produção de neurotransmissores e podem ter crises de pânico, desenvolvendo ansiedade e depressão ao mesmo tempo.
Pessoas ansiosas ou deprimidas quando jovens podem ter quadros mais graves na velhice?
Dra. Roberta Gobeti Delgado - Pessoas ansiosas ou deprimidas na juventude têm mais predisposição a sofrer com estas mesmas doenças na velhice.
Assim como pessoas que têm diabetes ou pressão alta quando jovens vão seguir com esse problema pela vida.
São todas doenças que exigem cuidado contínuo.
Durante a pandemia aumentaram os casos de depressão nos idosos?
Dra. Roberta Gobeti Delgado - Durante a pandemia aumentaram enormemente os casos de depressão em idosos.
É simples entender por quê.
Pessoas que viveram uma vida toda trabalhando, cuidando da família e criando expectativa sobre como seria a aposentadoria, perderam a autonomia e independência.
De repente se viram trancadas em casa por conta do risco de contágio.
Essa situação aumentou de forma exuberante o número de casos de depressão nesta faixa etária.
Quais são os sinais de depressão grave que pode levar ao suicídio?
Dra. Roberta Gobeti Delgado - Os sintomas de quadros graves de depressão, com risco de suicídio, podem se manifestar isoladamente.
É preciso ficar muito atento, reconhecer a depressão como doença, não subestimar as consequências e oferecer apoio para a pessoa que está deprimida.
Um comportamento característico, e que se intensifica conforme aumenta o sofrimento da pessoa com depressão, é dizer coisas do tipo: eu vou sumir, vou desaparecer, vou deixar vocês em paz, gostaria de dormir e não acordar, queria poder não estar aqui amanhã, vocês seriam mais felizes sem mim.
O tom de ameaça, mas na verdade essas frases são pedidos de socorro.
Muitas vezes eu escuto de familiares de pacientes, ela finge que está doente para chamar atenção.
É um erro pensar assim.
A família deve entender que a pessoa não tem nenhum prazer nisso.
Muitas vezes o paciente realmente está se sentindo muito mal, triste e desanimado.
É algo que deve ser investigado, não só pelo médico.
Temos que oferecer todo o apoio da maneira que cada um de nós pode dar.
Como agir se alguém próximo dá sinais de depressão?
Dra. Roberta Gobeti Delgado - Se percebemos que uma pessoa passa a buscar o isolamento, não quer conversar, faz comentários que refletem sentimento de culpa, de pessimismo, podemos oferecer, inicialmente, apoio.
Deixar claro que reconhecemos que ela enfrenta um problema sério e tentar conseguir ajuda.
Se você não é um membro da família, converse alguém da família.
Explique o que está acontecendo e que a pessoa necessita apoio e tratamento.
E não basta levar ao médico, há que também melhorar o ambiente social onde o paciente está inserido, ajustar às suas necessidades.
Como é feito o diagnóstico de doenças emocionais?
Dra. Roberta Gobeti Delgado - O diagnóstico de doenças emocionais é feito através de uma longa anamnese, uma espécie de entrevista feita pelo médico com o paciente.
Conversamos para compreender a percepção do paciente sobre a vida dele e os problemas que enfrenta, físicos e emocionais.
Muitas vezes o paciente se queixa de solidão, mas a família diz que ele tem companhia.
O paciente está mentindo?
Não. Ele está se sentindo sozinho, há algo que precisa ser ajustado.
É isso que vamos diagnosticar e tratar.
Na pandemia a socialização ficou mais difícil, mas não é impossível.
Doenças emocionais podem causar demência na velhice?
Dra. Roberta Gobeti Delgado - Sim, problemas emocionais podem causar síndromes demenciais na terceira idade. Transtornos depressivos ou de ansiedade são fatores de risco para Alzheimer e outros tipos de demência.
Assim como os distúrbios do sono também podem favorecer quadros demenciais na terceira idade quando não tratados.
Nossa memória e nossa capacidade cognitiva dependem do sono profundo, de qualidade.
Doenças que causam dor crônica, como a artrose, podem provocar depressão?
Dra. Roberta Gobeti Delgado - Doenças que causam dor crônica tem relação com o quadro de depressão.
A dor provoca alteração dos nossos neurotransmissores.
Difícil para alguém com dor frequente ficar feliz, então são pacientes com maior facilidade para evolução de quadros depressivos, ansiosos e distúrbios psiquiátricos.
Não só a artrose pode levar a esse resultado, mas outras doenças que causam dor constante como artrite, fibromialgia e neuropatia.
O geriatra trata depressão em idoso?
Dra. Roberta Gobeti Delgado - Geriatria e geriatra tentam, de uma maneira geral, organizar os cuidados com a saúde do idoso, adequá-la e tratá-la.
Desse modo, as doenças que aparecem na terceira idade são tratadas pelo geriatra.
Sempre que tivermos um quadro muito específico, que demande cuidado com especialista, vamos trabalhar em conjunto.
Fazemos o diagnóstico inicial, começamos o tratamento para depressão e, em casos de necessidade, buscamos o acompanhamento com psiquiatra.
As especialidades e a geriatria devem andar de mãos dadas para alcançar o melhor resultado para o paciente.
Como é feito o tratamento para depressão e ansiedade?
Dra. Roberta Gobeti Delgado - O tratamento de doenças emocionais é totalmente individualizado, não tem uma receita de bolo.
Não dá pra garantir que o antidepressivo “x” vai funcionar e o ansiolítico “x” vai funcionar para o seu quadro de ansiedade.
Tem pacientes que respondem muito bem à uma classe terapêutica e pacientes que respondem muito mal.
Há pacientes com maior e menor poder aquisitivo, isso também deve ser levado em conta para garantir a continuidade do tratamento e não gerar mais ansiedade ainda.
Além de medicação temos que melhorar o ambiente de convívio, oferecer terapias ocupacionais, atividades fora de casa relacionadas a hobbies e a avaliação do psiquiatra, quando for preciso.
O canabidiol é um recurso eficiente para tratar problemas emocionais?
Dra. Roberta Gobeti Delgado - O uso de canabidiol vem crescendo pelos seus resultados com dor e ansiedade.
Há estudos para aplicação em caso de quadros de demência.
Mas é uma avaliação que deve ser feita caso a caso.
Eu tive pacientes que usaram o canabidiol com bons resultados e outros que não responderam ao tratamento.
Não é uma medicação barata, não podemos esquecer dos tratamentos convencionais só porque temos novidades no mercado.
Como a família pode ajudar a pessoa com depressão?
Dra. Roberta Gobeti Delgado - O principal é não menosprezar os sintomas do doente, não achar que é frescura, que é só um meio de chamar atenção.
Não é isso, se trata de uma doença.
É a mesma coisa que a gente falar que um diabético está fingindo hiperglicemia.
Considerar e reconhecer a doença já é um bom começo.
Que hábitos podem nos afastar da ansiedade e da depressão?
Dra. Roberta Gobeti Delgado - Por mais que soe contraditório no mundo em que nós vivemos, cada vez mais virtual, o convívio social é muito importante para nos afastar da depressão.
Não devemos restringir nossos relacionamentos às redes sociais, é bom evitar a reclusão.
Atividades ao ar livre, mesmo uma simples caminhada, liberam endorfinas e geram sensação de bem-estar.
Roberta Gobeti Delgado é médica formada pela Universidade Federal da Grande Dourados (MS).
Passou por especialização em Clínica Médica no Hospital do Coração em Londrina (PR).
Especializou-se em Geriatria na Fanema (Faculdade de Medicina de Marília) (SP).
Faz parte da Equipe de Cuidados Paliativos do Hospital da Zona Sul e atende na QualiMedi Saúde, em Londrina, no Paraná.
Não deixe de consultar o geriatra.
São mais de 65 mil casos de câncer de próstata a cada ano no
Brasil. Com diagnóstico precoce, a chance de cura é de 90%.
Publicado em 1 de novembro de 2021.
A prevenção contra o câncer de próstata ganha destaque na campanha pela
saúde do homem, o Novembro Azul.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA) é o tipo de câncer mais comum na população masculina, representa
29% dos casos.
O órgão, que auxilia o Ministério da Saúde nas políticas de
controle e prevenção da doença, estima que 65.840 novos casos serão
registrados a cada ano, entre 2.020 e 2.022 no Brasil.
O câncer é a mais grave doença da próstata, mas tem grande chance de cura
quando diagnosticado em estágio inicial.
O problema é que a maioria dos
homens não faz os exames preventivos regularmente.
Pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), realizada em junho deste ano em 8 capitais,
com 3.200 homens com mais de 35 anos, constatou que 51% dos
entrevistados nunca consultaram um urologista. Os motivos alegados pela maioria foram a falta de tempo e o medo.
As consultas com o especialista para a prevenção do câncer de próstata
devem ser anuais para homens que fazem parte do grupo de risco.
O ainda temido exame de toque retal dura apenas segundos, é indolor eindispensável.
Nesta entrevista o urologista Joao Correia dos Santos, integrante da equipe da QualiMedi Saúde, em Londrina, informa sobre os fatores de risco, amedidas de prevenção e tratamento do câncer e de outras doenças da
próstata.
Qual é a função da próstata?
Dr. João Correia dos Santos – A próstata é o órgão reprodutor masculino.
Ela produz um líquido que protege o espermatozoide durante o deslocamento até
a vagina.
Esse líquido cria as condições necessárias para a sobrevivência do
espermatozoide graças à sua composição, tem o pH (acidez) adequado e
substâncias como a frutose (açúcar produzido pelo organismo), para nutrir o
espermatozoide por até três dias no útero da mulher.
Portanto a função da próstata é reprodutiva.
Apesar de o espermatozoide ser produzido nos testículos, ele depende do líquido prostático para sobreviver após a ejaculação.
Quais são as doenças da próstata?
Dr. João Correia dos Santos – São basicamente três doenças, duas benignas e
uma maligna.
O aumento benigno da próstata e a prostatite (inflamação da
próstata), provocam apenas desconfortos, como dificuldade para urinar.
Já o câncer de próstata pode matar.
É uma doença que se desenvolve
silenciosamente, assintomático em sua fase inicial.
Os sinais se manifestam quando evolui para um quadro mais grave.
Conseguimos identificar o câncer de próstata ao realizar o exame de toque e verificar que a próstata está dura.
Por isso a importância de campanhas como o Novembro Azul que estimulam
os exames anuais, colaborando para a detecção precoce.
Se tratado no início, a chance de cura chega a 90%.
Mesmo quem depende do SUS (Sistema Únicode Saúde), consegue realizar exames anuais se programar com antecedência.
Eles são indispensáveis porque quando o câncer de próstata demora a ser descoberto, há pouco a se fazer.
Para que o paciente entenda melhor as doenças da próstata, eu costumo usar a imagem de uma maçã cortada ao meio.
A casca da maçã representa a cápsula da próstata, onde se localizam 70% dos casos de câncer.
Por isso o exame de toque é tão necessário.
Apalpando percebemos se a cápsula está dura ou tem caroços que indicam a doença.
A polpa da maçã representa a área onde é produzido o líquido prostático e ocorre o aumento benigno da
próstata.
E a parte do meio da maçã, onde fica o talo, representa a localização da uretra, onde surge a inflamação chamada uretrite.
Quais são as doenças da próstata mais comuns nos jovens?
Dr. João Correia dos Santos – Quando o jovem sente alguma alteração na próstata, normalmente é uma inflamação, uma prostatite, e muitas vezes tem a ver com infecções sexualmente transmissíveis.
O câncer de próstata é raro antes dos 40 anos.
Uma recomendação para homens que têm entre 15 e 35 anos de idade é examinar ao menos uma vez por semana os seus testículos.
Se encontrar um caroço, procure o urologista para exame.
O câncer de testículo é bem agressivo e ocorre em adolescentes e jovens adultos.
A partir de que idade o homem tem que fazer exame preventivo de câncer de próstata?
Dr. João Correia dos Santos – O homem deve se consultar com o urologista anualmente para fazer o exame de próstata a partir dos 45 anos (quando há casos de câncer na família) ou dos 50 anos (quando não há registro de
casos).
É muito importante fazer os exames anuais até chegar aos 80 anos de idade.
Depois dos 80 consideramos desnecessário porque, apesar de prevalente, nesta fase da velhice o câncer de próstata tem um risco de vida bem menor.
Quais são os fatores de risco para o câncer de próstata?
Dr. João Correia dos Santos – O principal fator de risco para o desenvolvimento de câncer de próstata é o envelhecimento.
Quanto mais velhos ficamos, maior a chance de ter a doença.
Como já disse, quando o câncer surge depois dos 80 anos de idade é menos agressivo e raramente a pessoa morre por esse motivo.
Quando aparece aos 40, aos 50, aos 60 anos é muito pior, por isso temos que ser bem disciplinados em relação aos exames preventivos nesta fase da vida.
A genética é outro fator de risco relevante.
Se há casos na família, fique atento.
Ser da etnia negra também é fator de risco.
Como no Brasil, a maioria da população é negra ou mestiça, temos chance aumentada de desenvolver o
câncer.
Um dos estudos realizados e que apontou para esse fator de risco foi realizado nos EUA revelando um número bem maior de casos da doença na população afro-americana do que entre os brancos.
Na Europa, onde a predominância é branca, a incidência de câncer de próstata é menor.
Tanto que a conduta preventiva difere da nossa.
Sabemos também que o câncer pode estar relacionado, em alguns casos, ao alto consumo de gordura animal.
No Japão onde a dieta típica inclui muitos vegetais e peixe, o índice de câncer de próstata é baixo.
Já entre os descendentes de japoneses que vivem nos EUA e acabam adotando hábitos
como comer fast food, carnes gordas e poucos vegetais, a prevalência é maior.
Manter uma alimentação predominantemente vegetariana ajuda na prevenção não só do câncer de próstata, mas de outros cânceres e de problemas cardiovasculares.
Como é feito o check-up preventivo do câncer de próstata?
Dr. João Correia dos Santos – O check-up preventivo do câncer de próstata deve ser realizado anualmente e consiste no exame de toque retal e no exame de sangue para medir o nível de PSA, uma enzima produzida pela
próstata e que serve como marcador tumoral.
Ou seja, altos níveis de PSA indicam que há algo errado na próstata.
Avaliando o resultado do exame de sangue e apalpando a próstata no toque retal, é possível descartar a doença.
Importante dizer que o paciente não deve se assustar olhando apenas a medição de PSA.
Andar de moto, de bicicleta ou ter uma relação sexual também altera o PSA.
O homem é privilegiado, a mulher não tem marcadores tumorais para câncer de mama ou de colo uterino.
O PSA é um marcador razoável.
Portanto, o homem tem uma grande chance de detecção precoce e cura do câncer fazendo seus exames regularmente.
O exame de toque retal é indispensável para detectar o câncer depróstata?
Dr. João Correia dos Santos – O exame de toque é indispensável, faz parte do exame físico.
Há um certo pudor por parte do paciente, mas assim como temos de aferir a pressão arterial, olhar a garganta, apalpar o abdômen, precisamos fazer o toque retal para conseguir examinar a próstata.
Não basta o exame de sangue para fechar o diagnóstico.
Os dois exames – físico e de sangue – são complementares.
Em alguns casos pedimos inclusive um terceiro exame, a ultrassonografia abdominal ou transretal para conseguir avaliar com mais precisão a próstata e, se for o caso, determinar a realização de biópsia.
Outro exame que hoje está sendo recomendadíssimo é a ressonância nuclear magnética multiparamétrica da próstata que detecta áreas com densidade alterada e gradua o risco de ser câncer.
O problema é que é um exame caro ainda, custa entre 1,5 mil e 2 mil reais e ainda não é oferecido pelo SUS.
Como é feito o exame de toque retal?
Dr. João Correia dos Santos – O exame de toque retal é muito rápido, dura alguns segundos apenas.
O paciente fica numa posição confortável, deitado na maca, com a barriga pra cima e os joelhos fletidos.
Usamos luva e lubrificante, não dói e não tem nada de humilhante.
O que acontece se o homem se recusar a fazer o exame de toque retal?
Dr. João Correia dos Santos – O preconceito contra o exame de toque retal já foi pior.
Após a intensificação de campanhas educativas por parte do governo e de instituições da área médica, principalmente no Novembro Azul, estamos conseguindo superar melhor essa questão cultural relacionada à masculinidade.
Mas temos pacientes, especialmente os mais idosos, que se recusam a fazer o exame de toque.
Quando insistimos e conseguimos realizar o exame, o paciente até se surpreende e pergunta, é só isso?
Se o homem não se conscientiza da importância e não faz o exame, infelizmente está colocando
a própria vida em risco.
Como é feita a biópsia para diagnosticar o câncer de próstata?
Dr. João Correia dos Santos – A biópsia de próstata pode ser realizada pelo urologista ou pelo radiologista.
O objetivo é retirar um fragmento para análise.
O profissional é guiado pelo aparelho de ultrassonografia.
Pode ser aplicada anestesia local ou sedação.
O procedimento não deixa nenhuma sequela, tem baixo risco de provocar febre, sangramento ou infecção urinária porque usamos o reto como fonte.
Os casos com complicações giram em torno de 3% apenas e são, geralmente, aqueles em que o paciente tem
comorbidades como diabetes, por exemplo.
Qual é o tratamento para o câncer de próstata?
Dr. João Correia dos Santos – A biópsia de fragmento da próstata, além de confirmar ou descartar o diagnóstico de câncer, indica o grau de agressividade do tumor.
Isso ajuda a determinar o melhor tratamento para cada caso.
Quando o câncer é diagnosticado precocemente, ainda está confinado na próstata, conseguimos eliminar o tumor por meio da prostatectomia radical (cirurgia para a retirada da próstata) ou por radioterapia.
A chance de cura nesses casos é bem alta, em torno de 90%.
Quando o câncer já está em estágio mais avançado, chegou à vesícula seminal ou até a bexiga, a conduta é tratar com radioterapia e quimioterapia.
E quando a situação é ainda mais grave o tratamento é quimioterápico.
Como é realizada a cirurgia para a retirada da próstata (prostatectomia radical)?
Dr. João Correia dos Santos – A cirurgia para a retirada da próstata é realizada pelo urologista.
Pode ser feita da forma tradicional (cirurgia aberta, com incisão maior) ou por laparoscopia (por meio de pequenas incisões), reduzindo o tempo de recuperação e com um resultado estético melhor.
Também já temos no Brasil, inclusive em Londrina, a possibilidade de auxílio de robô para fazer a prostatectomia com ainda mais precisão.
A cirurgia para retirar a próstata deixa sequelas?
Dr. João Correia dos Santos – A cirurgia para retirada da próstata implica na perda da capacidade reprodutiva e pode causar impotência sexual em 20% dos casos.
A maioria dos pacientes, portanto, segue tendo ereção e prazer sexual normais.
João Correia dos Santos possui graduação em Medicina pela Fundação Bahiana para Desenvolvimento da Medicina (1993).
Mestre pelo PRODEMA na Universidade Estadual de Santa Cruz (2010), em Ilhéus, na Bahia.
Atualmente faz parte como Membro Efetivo do Corpo Clínico do Hospital Evangélico de Londrina nos Serviços de Urologia e Clínica Cirúrgica (desde maio/2017).
Médico Preceptor do Programa de Residência Médica em Cirurgia Geral e da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica desde agosto/2017 (PUC - Londrina-PR).
Em Itabuna-Bahia atuou em Clínica Cirúrgica e Urologia na Clínica Interface Odontomédica, e na Santa Casa de Misericórdia (janeiro/2001 a junho/2017).
No Hospital de Base Luís Eduardo Magalhães foi médico plantonista da Emergência, Urologista e Coordenador do Programa de Residência Médica em Cirurgia Geral (fevereiro/2001 a junho/ 2017).
Exerceu docência na Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus, Bahia, no curso de Medicina (março/2002 a junho/2017.
É integrante da equipe da QualiMedi Saúde onde atende pacientes a partir dos 2 anos de idade.
Saiba quais são os hábitos que contribuem para evitar a infecção urinária, um problema que atinge 30% das mulheres.
Publicado em 21 de outubro de 2021.
O urologista é o médico especialista no aparelho urinário e deve ser consultado pelas mulheres em casos de infecção urinária frequente.
A infecção urinária é um problema muito comum na vida da mulher.
Causa desconfortos e prejuízos físicos e emocionais.
Se não tratada adequadamente pode comprometer a saúde de forma grave.
Quando a mulher demora a tratar, há chance de a infecção urinária evoluir para uma infecção renal, exigindo internação hospitalar e até cirurgia.
É importante compreender que tratar a infecção urinária não significa apenas tomar antibióticos em momentos de crise.
É preciso mudar o comportamento, adotar uma rotina de cuidados diários que vão muito além da higiene adequada.
Nesta entrevista, o urologista João Correia dos Santos, médico que integra a equipe da QualiMedi Saúde, explica como a mulher pode evitar a infecção urinária ajustando hábitos.
O especialista também alerta para os riscos de negligenciar os episódios de repetição e destaca os tratamentos disponíveis.
Inclusive uma vacina que estimula o sistema imunológico contra a infecção urinária quando causada pela bactéria Escherichia coli relacionada a 80% das infecções.
É comum a mulher procurar o urologista para tratar infecção urinária?
Dr. João Correia do Santos - É frequente mas não é o comportamento mais comum.
Quando a mulher vai regularmente ao ginecologista, tende a tratar a infecção urinária com esse profissional.
Tem mulher que chega ao consultório do urologista com vergonha, achando que está no médico errado.
É preciso que as mulheres saibam que o urologista não é o médico que trata só os homens, mas um especialista em problemas do aparelho urinário como a infecção urinária, a perda de urina involuntária e o cálculo renal, dentre outros.
É verdade que qualquer médico pode e deve tratar a infecção urinária, pois é algo urgente, geralmente causa dor, mal-estar e febre.
Mas se o paciente tem quadros infecciosos de repetição ou sintomas de outros problemas relacionados ao aparelho urinário, deve ser encaminhado ao urologista para avaliação.
Por que as mulheres têm mais infecção urinária que os homens?
Dr. João Correia do Santos - A literatura mostra que 30% das mulheres têm ou terão infecção urinária ao longo da vida.
Já os homens, normalmente, só enfrentam este problema depois dos 50 anos, quando surgem doenças da próstata.
A prevalência se explica pela anatomia feminina.
Na mulher, a uretra, que é o canal que conduz a urina da bexiga até a vagina, é curta, tem torno de 2 a 4 centímetros. No homem, devido ao pênis, a uretra é longa, tem entre 15 e 20 centímetros.
A pequena uretra da mulher está junto da vagina e muito próxima do ânus.
Por isso, por melhor que seja o cuidado com a higiene, o risco de infecção é alto.
Na maioria dos casos, cerca de 80% deles, a infecção é causada pela Escherichia coli (E. coli), uma bactéria presente nas fezes que migra do ânus para a vagina e então para dentro da bexiga.
Em que fases da vida o risco de infecção urinária na mulher aumenta?
Dr. João Correia do Santos - A infecção urinária pode afetar a mulher desde a infância, desde o momento em que a criança deixa de usar fralda e começa a segurar o xixi.
Especialmente quando vai pra escola e passa horas sem ir ao banheiro.
Mais tarde, na adolescência, quando começa o ciclo menstrual, o uso de absorvente aumenta a temperatura local e contribui para a proliferação de bactéria.
Na vida adulta começam as relações sexuais que provocam impacto, um tipo de trauma que pode causar inflamação na bexiga e maior risco de infecção.
E durante a menopausa, o risco também é alto.
Por isso, ao longo da vida, é importante receber orientação do urologista sobre medidas preventivas e não apenas usar antibiótico nos momentos de crise.
Por que o risco de infecção urinária é grande na menopausa?
Dr. João Correia do Santos – Na menopausa, ente os 45 e 60 anos de idade, ocorre o declínio da produção hormonal na mulher.
É algo que faz parte do envelhecimento e provoca o ressecamento e a atrofia vaginal.
Sem a hidratação, que funciona também como uma barreira de proteção para a vagina, fica ainda mais fácil a migração de bactérias para a bexiga.
Se for este o caso, a paciente deve ser encaminhada ao ginecologista e avaliar juntamente com o médico a possibilidade de reposição hormonal e uso de cremes vaginais.
Resumindo, quais são as principais medidas preventivas contra a infecção urinária nas mulheres?
Dr. João Correia do Santos – Fazer xixi várias vezes ao dia e com qualidade.
Ou seja, beber bastante líquido (água, chá, suco) e esvaziar toda a bexiga para eliminar as bactérias na urina.
Se programar para ir ao banheiro em intervalos de no máximo duas ou três horas.
Reter o xixi facilita o progresso de infecção.
Por isso é um problema tão frequente em mulheres que têm mais dificuldade de deixar o posto de trabalho como professoras e recepcionistas, entre outras.
Outro comportamento que deve ser evitado é fazer xixi em pé ou semissentada.
Isso é muito comum quando a mulher vai usar um banheiro fora de casa e que não está em boas condições de limpeza.
A mulher evita se sentar no vaso sanitário e a posição acaba impedindo o esvaziamento total da bexiga.
Um pouquinho de xixi fica guardado e é aí que começa a infecção.
Podemos comparar a bexiga com um reservatório de água que precisa ser esvaziado regularmente e limpo para não acumular sedimentos.
Tem que ser esvaziada por inteiro.
Não usar calça ou shorts muito apertados e preferir calcinhas com forro de algodão também são medidas preventivas.
Lembrar de esvaziar a bexiga antes e depois das relações sexuais, assim como ficar atenta quanto a lubrificação vaginal para minimizar o trauma uretral durante o coito.
Ingerir alimentos muito ácidos (abacaxi, maracujá, limão ou laranja) em grande quantidade pode fazer com que o xixi irrite os canais do aparelho urinário cause inflamação e abra caminho para um processo infeccioso.
Que problemas a infecção urinária de repetição pode provocar?
Dr. João Correia do Santos - Há dano emocional, porque atrapalha a vida social e sexual, criando até problemas conjugais, e há o prejuízo à saúde.
O quadro mais grave é a pielonefrite que ocorre quando a infecção urinária avança da bexiga para os rins.
É um problema sério que exige internamento e, em alguns casos, até intervenção cirúrgica.
Um risco maior ainda nos casos assintomáticos de infecção urinária.
Algumas mulheres não sentem nenhum sintoma até chegar a um estágio grave de infecção.
Isso reforça a importância de se fazer exames de urina semestrais ou anuais que podem revelar a presença de bactérias e o tratamento em tempo adequado.
Quais são os sintomas mais comuns da infecção urinária na mulher?
Dr. João Correia do Santos - O sintoma mais comum da infecção urinária é a disúria, ou seja, o desconforto ao urinar. O normal é que esvaziar a bexiga seja prazeroso, mas a infecção urinária provoca desconforto, às vezes ardência, no início ou no final do xixi.
Outro sintoma é o aumento da frequência urinária.
Se a mulher está acostumada a urinar duas vezes pela manhã, passa para três ou até mais vezes.
Faz xixi e logo já está com vontade de novo.
Já o mau cheiro na urina, geralmente, é sinal de vaginite, infecção na vagina, que pode levar a uma posterior infecção urinária.
Cistite e infecção urinária são a mesma coisa?
Dr. João Correia do Santos – A cistite é a denominação que damos para a infecção na bexiga.
Veja, o aparelho urinário é formado pelos rins que filtram o sangue eliminando as toxinas em forma de urina.
A urina é drenada pelo ureter até a bexiga, sendo escoada pela uretra até chegar à vagina.
Quando dizemos que a mulher está com infecção urinária significa que foi detectada infecção no aparelho urinário mas não sabemos ainda qual é a localização exata.
Analisando o quadro clínico e fazendo exames complementares, conseguimos o diagnóstico preciso.
Se a paciente relata dor no pé da barriga, posso afirmar que a infecção é na bexiga e chamamos de cistite.
Já se a pessoa apresenta dor lombar, febre ou dilatação dos rins a indicação é de pielonefrite, infecção nos rins. Quando o problema está no ureter é chamado de ureterite e na uretra, uretrite.
Enfim, a denominação muda de acordo com a área do aparelho urinário onde a infecção está localizada.
Tomar antibiótico várias vezes ao ano por causa de infecção urinária de repetição pode causar prejuízo à saúde? Qual a melhor conduta de tratamento nesses casos?
Dr. João Correia do Santos – O uso de antibióticos deve ser racional, normalmente administrado em momentos de crise para zerar a colônia de bactérias.
Mas o que funciona como tratamento são as medidas preventivas contra a infecção urinária.
É preciso tratar as causas comportamentais. Não ficar retendo urina, fazer xixi regularmente, várias vezes ao dia, bebendo bastante líquido e esvaziando a bexiga por inteiro ao urinar.
O ato sexual também exige cuidados, é preciso que a mulher esteja lubrificada para evitar traumas que facilitam o desenvolvimento do processo infeccioso.
E deve virar rotina urinar antes e depois do sexo.
É fundamental se ater a esses detalhes no dia a dia e passar pela avaliação do urologista para investigar as causas da repetição de episódios de infecção.
Mulheres grávidas podem tomar antibiótico para combater infecção urinária?
Dr. João Correia do Santos – O ideal é não tomar antibióticos na gravidez, por isso orientamos as mulheres que querem engravidar, ou já estão grávidas, a adotarem as medidas preventivas.
Mas quando ocorre a infecção urinária, não tem jeito, tem que tomar o antibiótico para evitar parto prematuro ou outra complicação.
Existem medicamentos que podem ser usados com segurança pois não comprometem o desenvolvimento do bebê.
Reforçar a imunidade protege da infecção urinária?
Dr. João Correia do Santos – Quanto maior a imunidade maior é a resistência do organismo, portanto ajuda sempre. Para pacientes com infecção urinária de repetição vale a pena fazer prevenção com vacina que estimula a produção de anticorpos contra a Escherichia coli, que é a bactéria causadora de 80% dos casos.
A paciente toma comprimidos com a bactéria inativada por um período de três meses.
O resultado é excelente.
João Correia dos Santos possui graduação em Medicina pela Fundação Bahiana para Desenvolvimento da Medicina (1993), Mestre pelo PRODEMA na Universidade Estadual de Santa Cruz (2010), em Ilhéus, na Bahia.
Atualmente faz parte como Membro Efetivo do Corpo Clínico do Hospital Evangélico de Londrina nos Serviços de Urologia e Clínica Cirúrgica (desde maio/2017).
Médico Preceptor do Programa de Residência Médica em Cirurgia Geral e da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica desde agosto/2017 (PUC - Londrina-PR).
Em Itabuna-Bahia atuou em Clínica Cirúrgica e Urologia na Clínica Interface Odontomédica, e na Santa Casa de Misericórdia (janeiro/2001 a junho/2017).
No Hospital de Base Luís Eduardo Magalhães foi médico plantonista da Emergência, Urologista e Coordenador do Programa de Residência Médica em Cirurgia Geral (fevereiro/2001 a junho/ 2017).
Exerceu docência na Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus, Bahia, no curso de Medicina (março/2002 a junho/2017.
É integrante da equipe da QualiMedi Saúde onde atende pacientes a partir dos 2 anos de idade.
Ortopedista fala sobre os danos causados na articulação, os tratamentos disponíveis e as recomendações para quem tem artrose no joelho.
Publicado em 13 de outubro de 2021.
Especialista responde a dúvidas sobre artrose no joelho, uma doença cada vez mais comum também em adultos jovens.
A artrose no joelho, doença degenerativa das cartilagens, compromete significativamente a qualidade de vida.
Uma pessoa que sofre com as dores provocadas pela artrose não pode se movimentar normalmente, perde autonomia, capacidade produtiva e até o bom humor.
Engana-se quem pensa que a artrose é um problema só na vida de pessoas idosas.
É verdade que após os 60 anos a doença é muito mais comum por causa do envelhecimento natural do corpo, mas a artrose pode surgir em qualquer idade associada a outras enfermidades, traumas ou movimentos repetitivos.
Segundo dados do Ministério da Saúde, são aproximadamente 15 milhões de pessoas com artrose no país.
A doença está entre as causas mais frequentes de afastamento do trabalho e até de aposentadoria por invalidez.
Por isso é muito importante o diagnóstico precoce.
Se a artrose é detectada em estágio inicial, é possível promover mudanças no estilo de vida do paciente e desacelerar o processo degenerativo.
Durante a pandemia aumentaram as queixas por dores crônicas como as provocadas pela artrose.
O motivo é, principalmente, o sedentarismo no período de isolamento.
Conversamos com o médico Fábio Fraga Maluli de Oliveira, ortopedista e traumatologista da QualiMedi Saúde, para esclarecer as dúvidas mais frequentes sobre a artrose no joelho.
É comum confundir artrose e artrite, pode explicar a diferença?
Dr. Fábio Fraga Maluli de Oliveira - Artrose é uma doença degenerativa das cartilagens.
Já a artrite é uma doença autoimune.
Ambas atacam o joelho e outras articulações do corpo, mas de formas diferentes.
A artrose é o desgaste das cartilagens que protegem as extremidades dos ossos e evitam o atrito entre eles.
A artrite é o próprio corpo produzindo inflamação nas articulações e levando a deformidades.
Quais são as consequências do avanço da artrose no joelho?
Dr. Fábio Fraga Maluli de Oliveira - A artrose provoca a degeneração da cartilagem dos três compartimentos do joelho (femoro tibial medial, femoro tibial lateral e patelo femoral).
A consequência é a limitação funcional da articulação do joelho devido à dor.
Alguns movimentos ficam prejudicados, a pessoa sente fraqueza e falta de estabilidade no joelho.
Os problemas aumentam com o passar do tempo, quanto mais avançada a doença mais limitação e dor por conta da diminuição do espaço entre os ossos.
O atrito pode provocar inclusive deformidades.
Quais são as principais causas da artrose no joelho?
Dr. Fábio Fraga Maluli de Oliveira – Não há uma causa específica para a artrose, mas várias e, dentre elas, o fator genético é muito importante.
O envelhecimento é outro motivo determinante para o desgaste.
Outros fatores de risco são lesões e cirurgias no joelho, doenças inflamatórias e o estilo de vida.
Isso inclui os hábitos alimentares, a falta de atividade física ou o contrário, a sobrecarga na articulação provocada por exercícios de impacto.
Atividades profissionais que implicam em movimentos repetitivos também são consideradas fator de risco.
Dr. Fábio Fraga Maluli de Oliveira – Os sintomas demoram a aparecer, mas o primeiro é dor eventual na articulação, conforme o desgaste aumenta, a dor se torna mais constante e intensa.
Outro sinal de artrose é a rigidez articular, com perda progressiva na capacidade de movimentos do joelho.
Isso acontece quando a doença já está mais avançada
. Fica difícil andar, sentar, levantar.
Em alguns casos também pode ocorrer inchaço no joelho.
Jovens também podem ter artrose no joelho? É um tipo diferente de artrose?
Dr. Fábio Fraga Maluli de Oliveira – Sim, jovens também podem ter artrose e é até muito frequente.
Geralmente são casos de artrose pós-traumática. Quando um paciente jovem se acidenta e sofre uma fratura no fêmur distal ou na tíbia proximal, ou seja, na região do joelho, pode apresentar artrose pós-traumática.
Por melhor que seja o resultado da cirurgia, a fratura em região articular gera um dano cartilaginoso que não pode ser reparado.
Prática de esportes pode aumentar o risco de artrose no joelho?
Dr. Fábio Fraga Maluli de Oliveira – Esse é um ponto controverso, é importante esclarecer.
A prática de atividade física é boa, contribui para a prevenção da artrose.
Mas esportes onde o risco de trauma é grande, expõem as pessoas a lesões e, consequentemente, aumentam a chance de desenvolver a doença.
Pilates, musculação, natação e ciclismo são exemplos de esportes que geram fortalecimento e alongamento muscular ajudando a prevenir a artrose.
Porém modalidades que podem levar a múltiplos traumatismos, sejam traumatismos leves ou mais graves, como futebol, voleibol, tênis e artes marciais, podem sim levar o paciente a ter artrose precoce.
Como é feito o diagnóstico de artrose?
Dr. Fábio Fraga Maluli de Oliveira – O médico pede que o paciente relate as características da dor que sente no joelho, como localização, intensidade e frequência.
É importante que o paciente informe sobre eventuais traumas anteriores na região.
No exame clínico observamos se há crepitação na articulação, instabilidade, fraqueza ou inchaço.
Exames de imagem mais sofisticados ou mesmo a radiografia simples, permitem observar o espaço entre os ossos e se há cistos ou deformidades.
Dr. Fábio Fraga Maluli de Oliveira – Até o momento a artrose no joelho não tem cura.
Uma vez instalada, a doença não regride.
O desgaste pode estabilizar no mesmo grau ou avançar.
Mas as pessoas precisam saber que existe tratamento e quanto antes começar, melhor.
O objetivo do tratamento é evitar o avanço da doença e diminuir a dor para garantir mais qualidade de vida ao paciente.
Qual é o tratamento mais eficaz para a artrose no joelho?
Dr. Fábio Fraga Maluli de Oliveira – O tratamento para a artrose associa vários recursos terapêuticos.
Prescrevemos medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios para alívio dos sintomas.
Em alguns casos recomendamos a viscossuplementação, um procedimento que lubrifica a articulação, diminui a inflamação da região, nutre a cartilagem e ajuda a evitar a progressão da artrose.
Mas o tratamento mais eficaz não é o medicamentoso e sim um programa de fisioterapia e uma rotina de exercícios. Para amenizar as dores e desacelerar o avanço da artrose é preciso fortalecer e alongar os músculos que dão suporte ao joelho.
Quando é recomendada a cirurgia para artrose no joelho?
Dr. Fábio Fraga Maluli de Oliveira – A cirurgia para artrose no joelho só é recomendada quando falha o tratamento conservador. Se apesar dos medicamentos, da fisioterapia e dos exercícios o paciente permanece com dor e limitações importantes, a solução é cirúrgica. Em casos assim, analisamos o conjunto dos sintomas e os exames de imagem que mostram o grau de desgaste das cartilagens para decidir o que fazer. A osteotomia valgizante e a osteotomia varizante são cirurgias com o objetivo de realinhar os joelhos. Geralmente são indicadas para pacientes com menos de 60 anos de idade. Em pessoas mais velhas os procedimentos mais comuns são a artroplastia total de joelho, para a colocação de uma prótese que substitui por completo a articulação; ou a artroplastia parcial, quando a prótese é colocada em apenas um dos três compartimentos do joelho.
Como prevenir a artrose no joelho?
Dr. Fábio Fraga Maluli de Oliveira – Para prevenir a artrose no joelho temos que evitar traumas na região.
A obesidade também prejudica a articulação.
Mas, sem dúvida, a melhor forma de prevenção são os exercícios de fortalecimento e alongamento da musculatura das coxas.
Principalmente o quadríceps, que é a musculatura extensora do joelho e a musculatura posterior da coxa, flexora do joelho.
Dr. Fábio Fraga Maluli de Oliveira – Eu considero que as melhores opções de atividade física para quem tem artrose no joelho são hidroginástica, natação, yoga, Pilates musculação e bicicleta. Essas práticas fortalecem e alongam os músculos com baixo impacto para a articulação. Além disso trabalham equilíbrio e mobilidade articular, o que é fundamental.
Qual o exercício indicado pra quem não quer ou não pode ir até a academia?
Dr. Fábio Fraga Maluli de Oliveira – Caminhar ao menos três vezes por semana, com calçado adequado, ajuda.
E existem vários exercícios que podem ser feitos em casa.
Por exemplo, sentar-se com um bola entre os joelhos e fazer força, apertando a bola repetidas vezes.
Um elástico, ou mesmo uma toalha de banho grande, também podem ser úteis para alongar os músculos.
Enrole a toalha, deite-se, passe a toalha sob o pé, segure uma ponta em cada mão e estique a perna.
Alterne movimentos de flexão dorsal e plantar com os pés.
Mas o ideal é que cada paciente peça orientação ao ortopedista sobre a melhor forma de se exercitar, respeitando suas limitações.
Quando procurar o ortopedista por causa de uma dorzinha no joelho? Muita gente espera pra ver se vai piorar ou se é algo passageiro.
Dr. Fábio Fraga Maluli de Oliveira – Não é normal sentir dor no joelho.
Dor é sinal de problema e o quanto antes a pessoa passar por uma avaliação do ortopedista, melhor. Independentemente da idade, se sentiu dor, deve procurar logo um especialista.
O tratamento precoce sempre dá melhor resultado.
Fábio Fraga Maluli de Oliveira é médico especialista em ortopedia e traumatologia, membro da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia) e da SBCJ (Sociedade Brasileira de Cirurgia de Joelho).
Graduado em medicina na Universidade do Planalto Catarinense, fez residência médica no Hospital Nossa Senhora dos Prazeres, em Lages (SC).
Atende pacientes de todas as idades na QualiMedi Saúde, em Londrina (PR).
O ortopedista Fernando Cinagava teve que se submeter ao procedimento. Na entrevista ele conta da própria experiência e responde às perguntas mais frequentes sobre o pós-operatório da cirurgia do ombro.
O pós-operatório da cirurgia do ombro muda a rotina do paciente por vários meses.
Exige planejamento e disciplina para administrar a dor, a limitação de movimentos, o afastamento do trabalho, os cuidados e exercícios necessários no período de recuperação.
Hoje a maior parte das cirurgias no manguito rotador, o conjunto de músculos e tendões do ombro, é realizada por meio de uma técnica menos invasiva, a vídeoartroscopia.
São raras as exceções.
Em relação à cirurgia aberta, a reabilitação da vídeoartroscopia do ombro é muito mais rápida e menos dolorosa. Mesmo assim, impacta bastante a vida do paciente.
O ortopedista Fernando Cinagava pode falar com propriedade sobre o assunto.
Além de especialista experiente, com mais de 1800 cirurgias de ombro e cotovelo realizadas em 15 anos de carreira , ele próprio teve que se submeter à cirurgia do ombro depois de uma lesão jogando tênis.
O médico virou paciente.
Dr. Fernando Cinagava - Por mais que a gente se esforce para entender a dor do paciente, nós não conseguimos imaginar o que é se nunca passamos pelo mesmo problema.
Agora eu senti na pele tudo o que os pacientes relatam.
Como médico sei que toda cirurgia tem os riscos da anestesia, de infecção, de trombose e até a chance de fracassar, não dar bom resultado.
A chance de complicações é bem baixa, em torno de 1 a 2% dos casos, mas existe e causa preocupação.
Por isso o que eu acho mais importante aconselhar é: procure ajuda médica logo que começar a sentir dor.
Não fique adiando. Quanto mais cedo você tratar, melhor, mais fácil e mais rápido virá o resultado do tratamento.
E pode até evitar a cirurgia.
Como ocorreu o seu caso?
Dr. Fernando Cinagava - Eu tive uma lesão que ocorreu devido à prática de esporte.
Gosto de jogar tênis e acabei me excedendo.
Comecei a sentir uma dorzinha no ombro, não tratei e achei que tinha sarado.
Porém, em um dia de frio, fui pegar peso e senti uma dor intensa.
Passei por exames e descobri que havia uma lesão e não era recente, provavelmente havia ocorrido já há alguns anos.
O problema antigo se agravou com o esforço físico que fiz
Conte um pouco sobre a recuperação.
Dr. Fernando Cinagava - Passei pela cirurgia em julho, ou seja, há um mês e meio, e estou praticamente sem dor, consigo fazer quase todos os movimentos.
O que ainda não posso fazer é esforço, carregar peso.
Nos primeiros dias tive muita dor.
Quando a gente acorda da cirurgia, o braço está anestesiado, com bloqueio do plexo braquial.
Não sentimos nada desde o ombro até a mão.
Essa anestesia dura em torno de 18 horas e é bem importante porque as primeiras horas após cirurgia são muito doloridas.
Quando a anestesia passa, a dor já é menor, mas ainda muito intensa.
Na primeira noite eu acabei dormindo sentado no sofá, tomando analgésicos e fazendo compressa com gelo.
No dia seguinte, acordei um pouco melhor.
Durante o dia você fica desperto, menos focado na dor, o braço imobilizado a tipoia, sem mexer.
À noite é que incomoda mais, queremos relaxar, mas a percepção da dor aumenta.
A posição deitada é a pior, a gente não consegue acomodar o ombro sem evitar mais dor.
O jeito é ficar reclinado no momento de repouso, dormir numa poltrona do papai, no sofá ou colocar bastante travesseiros apoiando as costas na cama.
Dormir deitado mesmo, só depois do terceiro ou quarto dia de cirurgia.
A cirurgia para reparar o manguito rotador altera a configuração natural do ombro?
Dr. Fernando Cinagava – Na cirurgia do manguito rotador do ombro, fazemos o reparo das fibras rompidas, reavivando as bordas do tendão. Ou seja, ressecamos as partes degeneradas para deixar só o tecido saudável e, então, suturamos.
O objetivo é restaurar a anatomia do ombro, deixar como era antes da lesão.
Mas, como disse uma paciente minha, fazemos um remendo novo no pano velho.
Por melhor que seja o remendo, o tecido já está desgastado e mais frágil.
Após a cirurgia será possível fazer as atividades do dia a dia, incluindo prática de esportes.
Porém, é preciso evitar exageros. Grandes esforços físicos, movimentos repetitivos ou muito intensos causam sobrecarga e risco de nova lesão.
Qual é o tempo esperado para completar o processo de cicatrização e ter vida normal?
Dr. Fernando Cinagava - São necessários três meses para a cicatrização e mais três para o fortalecimento na fisioterapia.
Portanto, seis meses para a recuperação total.
Claro que esse tempo varia um pouco de acordo com a gravidade da lesão, se é antiga ou recente e o estado de geral de saúde do paciente.
Dr. Fernando Cinagava - É um processo lento porque o tendão é uma estrutura resistente que recebe pouco fluxo de sangue comparado a outros tecidos que são bem vascularizados.
A pele, por exemplo, demora até sete dias para cicatrizar, o músculo leva entre três e quatro semanas. No caso do tendão é mais difícil.
Quais são as fases principais da recuperação?
Dr. Fernando Cinagava - Dividimos o período de recuperação em três etapas.
No primeiro mês o tendão ainda não cicatrizou e é obrigatório muito repouso e uso permanente da tipoia.
Só é permitido fazer movimentos orientados pelo médico e fisioterapeuta.
Do segundo ao terceiro mês o tendão já está em processo de cicatrização e dá pra tirar o braço da tipoia, fazer movimentos leves, sem pegar peso.
Do quarto ao sexto mês temos 12 semanas dedicadas ao trabalho de fortalecimento na reabilitação fisioterápica.
Como lidar com as dores do pós-operatório?
Dr. Fernando Cinagava - A dor pós-operatória da cirurgia do ombro é mais forte nos três primeiros dias.
Para enfrentar esta fase usamos medicamentos anti-inflamatórios e analgésicos mais fortes, da classe dos opioides, derivados da morfina.
São drogas que não tiram completamente a dor, mas aliviam bastante.
Outra tática muito importante é fazer compressa com bolsa de gelo. Isso ajuda a desinchar a área da cirurgia e reduzir a dor.
A recomendação é fazer a compressa durante vinte minutos, três vezes ao dia, ao longo de dois meses.
Nos primeiros dias, de dor mais intensa, é melhor aplicar compressa com gelo de hora em hora.
O efeito é muito eficaz. Na hora de dormir, o cuidado é acomodar bem o braço com travesseiros e fazer compressa com bastante gelo.
É preciso ter paciência, lembrar que a fase mais dolorida demora um pouquinho, mas passa.
Como se adaptar ao uso da tipoia?
Dr. Fernando Cinagava - O uso da tipoia é recomendado durante o primeiro mês, quando a movimentação fica bem restrita.
Pode-se ler um livro, mexer um pouco no celular, mas nada que exija esforço.
O braço precisa ficar imobilizado, em repouso, para facilitar a cicatrização do tendão.
Para ajudar na circulação do sangue, três ou quatro vezes ao dia é recomendado soltar a tipoia, deixar o braço esticado, mexer as mãos, fazer movimento de flexão e extensão do cotovelo.
Tem paciente que fica com a mão bastante inchada por não cumprir essa rotina de movimentar um pouquinho o braço.
Movimentos lentos, sem provocar dor, e sem levantar o braço para não forçar os pontos de sutura, são benéficos e necessários.
Como dormir com a tipoia?
Dr. Fernando Cinagava - O pior momento para ficar com a tipoia é durante a noite.
O melhor é a acolchoar bem o local onde vamos repousar o braço e dormir reclinado, com as costas bem apoiadas em travesseiros.
Dr. Fernando Cinagava - O primeiro banho está liberado 24 horas depois da cirurgia.
Ao entrar no chuveiro, o cuidado é retirar o curativo cirúrgico e lavar as feridas com água e sabonete comum, sem usar bucha, só a mão.
Na hora de secar é importante pegar uma toalha limpa, ainda sem uso.
A maioria de nós tem o costume de usar a mesma toalha mais de uma vez, mas toalha que fica no banheiro secando de um dia para o outro pode ter bactérias.
Após o banho basta vestir uma roupa limpa e confortável como proteção, não precisa fazer outro curativo.
Lembrando que o paciente vai precisar de ajuda para tomar banho porque o braço operado não pode ser usado para esfregar o corpo.
Se não tiver ninguém disponível ou preferir tomar banho sozinho, o jeito é se lavar com uma escova de banho de cabo longo.
Quais são os sinais de que há algo errado na recuperação e é preciso avisar o médico?
Dr. Fernando Cinagava - Temos que ficar atentos aos sinais de infecção.
Apesar de ser uma cirurgia com incisões muito pequenas, menos invasiva, pode acontecer.
Se você estava indo bem, mas lá pelo quarto ou quinto dia a dor começa a piorar, é o corpo dando um alerta.
Apresentar alguma secreção nas feridas cirúrgicas, mesmo que seja aquosa e não pus, pode indicar infecção se formando.
Outros sintomas são vermelhidão ao redor da ferida e febre.
Se qualquer um desses sinais se manifesta, o médico precisa examinar o paciente.
A maior parte dos casos de infecção é resolvida com a administração de antibiótico por via oral.
Apenas em situações mais graves, e muito raras, é necessário fazer outra cirurgia para limpeza da articulação.
Os traumas também devem ser informados ao médico.
Se a pessoa bate o ombro sem querer nesse período de recuperação, leva uma pancada mais forte, o resultado da cirurgia pode ficar comprometido.
Dr. Fernando Cinagava - A fisioterapia é indispensável, a gente separa em três fases o tratamento fisioterápico.
Cada uma delas tem objetivos bem definidos.
A primeira fase é para provocar um efeito analgésico e anti-inflamatório.
A cirurgia agride bastante a região e precisamos reduzir o inchaço.
A segunda fase é para recuperar mobilidade, soltar a articulação.
Na terceira fase, trabalhamos o fortalecimento do ombro.
No total é preciso fazer no mínimo seis meses de fisioterapia.
Para se recuperar totalmente, em alguns casos, pode levar até mais.
O que mais ajuda na recuperação da cirurgia do ombro?
Dr. Fernando Cinagava - O que mais ajuda na reabilitação do ombro é seguir a recomendação do seu médico.
O resultado da cirurgia depende muito de o paciente fazer o que tem que ser feito, no tempo certo.
Qual o comportamento que é comum nos pacientes e pode comprometer o resultado da cirurgia?
Existem duas situações que podem prejudicar.
A primeira é quando o paciente não consegue ficar parado, não usa a tipoia conforme as recomendações, faz movimentos ou força com o braço precocemente.
Desta maneira pode acontecer da sutura no tendão lacear e os pontos se soltarem.
Ou seja, a pessoa perde o resultado da cirurgia.
Já vi acontecer muitas vezes.
A segunda está relacionada ao comportamento oposto.
A pessoa fica com muito medo de mexer o braço.
Não faz os exercícios em casa, não deixa o fisioterapeuta mexer direito no braço. Fica travada.
O risco, neste caso, é a artrofibrose, uma condição em que o tendão cicatriza, mas tudo que está em volta fica meio grudado.
O excesso de tecido cicatricial deixa o ombro rígido.
A pessoa sente dor e os movimentos ficam limitados.
Quando o paciente fica liberado pra dirigir depois da cirurgia do ombro?
Dr. Fernando Cinagava - Normalmente a pessoa pode voltar a dirigir carros automáticos em quatro semanas, carro com câmbio manual só depois de 6 semanas.
Se o veículo não tiver direção hidráulica é melhor esperar mais.
Mas depende muito de cada paciente, avaliamos caso a caso, conforme a extensão da lesão que foi tratada.
Por quanto tempo é preciso ficar afastado do trabalho?
Dr. Fernando Cinagava - Se for um trabalho que não envolve esforço físico, o afastamento varia entre duas e três semanas.
Quem trabalha se movimentando bastante, mas não pega peso, pode voltar em dois meses.
Já se a atividade profissional obriga a pessoa a fazer muito esforço, carregar coisas pesadas, é preciso aguardar até ao final dos seis meses de reabilitação.
Depois do período de reabilitação ainda há restrições para praticar esportes e fazer tarefas cotidianas?
Dr. Fernando Cinagava - Se o esporte exige muito esforço é necessário que o retorno seja gradativo.
No caso de práticas mais pesadas como crossfit, jiu-jitsu ou judô, por exemplo, a pessoa não vai voltar a treinar no mesmo ritmo que estava antes da lesão.
Alguns estudos indicam que o ombro recupera toda a força muscular só depois de 18 meses da cirurgia.
Nas tarefas de casa também tem que ir com calma, evitar fazer tudo no mesmo dia.
É importante dizer que a maioria dos pacientes consegue retornar às atividades normalmente.
Mas só sabemos realmente se haverá alguma restrição mais severa quando termina a reabilitação fisioterápica.
Dr. Fernando Cinagava - É sempre mais complicado.
O tendão que já teve uma ruptura e foi suturado, não responde muito bem a uma nova cirurgia e à fisioterapia.
A recuperação é muito mais lenta.
O braço tem que ficar mais tempo na tipoia e demora mais pra começar a fisioterapia.
A cicatrização se torna difícil.
Neste caso, médico e paciente analisam os prós e contras de uma nova cirurgia.
O estado geral de saúde influencia fortemente na decisão.
Se você faz uma cirurgia em uma pessoa com mais de 70 anos e o tendão rompe novamente, é muito provável que o resultado será o mesmo depois de uma segunda cirurgia.
O transtorno pode ser muito grande comparado ao benefício.
Como prevenir uma nova lesão?
Dr. Fernando Cinagava - Devemos fazer um trabalho constante de preservação do ombro.
Eu tenho um vídeo no canal do YouTube explicando como fazer exercícios para fortalecer o manguito rotador usando elástico.
São exercícios recomendados para todo mundo que tem tendinite, bursite e para quem já operou o ombro.
Outra dica é se dedicar a uma atividade física que trabalhe o ombro de forma mais completa.
Musculação, pilates, natação, hidroginástica e ginástica funcional são boas opções para fortalecer o ombro por inteiro.
Não só o manguito rotador, mas também os outros músculos acessórios que ajudam a sustentar a região articular do ombro.
É uma rotina importante para ter boa sustentação e viver bem.
Dr. Fernando Cinagava é médico ortopedista formado pela UEL (Universidade Estadual de Londrina), com especialização em cirurgia do ombro e cotovelo pela UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas).
O clínico geral conhece o histórico do paciente e ajuda a definir as prioridades nos cuidados com a saúde.
Vivemos num tempo de medicina extremamente especializada, baseada em profundo conhecimento de cada parte e sistema do nosso corpo.
A especialização trouxe enormes benefícios aos pacientes, mas é fundamental ter também um médico que olhe para o todo.
O papel do clínico geral é acompanhar a saúde global das pessoas, conduzindo tratamentos para boa parte das doenças e orientando medidas preventivas como o check-up.
O check-up é um conjunto de exames clínicos, laboratoriais e de imagem para avaliar o nosso estado de saúde, diagnosticar doenças precocemente e medir o resultado de tratamentos realizados ou em andamento.
Por conhecer o histórico do paciente e da família, o clínico geral pode definir com segurança a periodicidade ideal e os exames prioritários para cada um.
O trabalho do clínico geral evita o autodiagnóstico, poupa tempo e dinheiro do paciente.
A orientação é assertiva e dispensa a consulta a vários especialistas para descobrir uma enfermidade ou risco à saúde. O clínico pode diagnosticar e tratar as pessoas, prevenindo doenças e suas complicações. E, quando necessário, indicar o especialista adequado ao tratamento de problemas específicos.
A frequência do check-up é determinada individualmente baseada na condição de saúde do paciente, faixa etária e histórico familiar.
É claro que as pessoas também precisam estar atentas a sintomas que exigem uma avaliação médica pontual. Mas, geralmente, o check-up é realizado a cada dois anos em adultos saudáveis.
Em caso de pacientes que apresentam fatores de risco, como colesterol alto ou obesidade, são sedentários ou fumantes, o recomendado é o check-up anual.
Pessoas com doenças crônicas, como pressão alta e diabetes, devem fazer o monitoramento dos indicadores de saúde a cada 6 meses.
Dependendo da faixa etária, homens e mulheres devem fazer alguns exames específicos. Mas os mais comuns são aqueles que indicam alterações no sangue e a qualidade do funcionamento dos órgãos.
Exames em laboratório
• Hemograma para verificar qualquer alteração no sangue e doenças como anemia.
• Urina para detectar infecções e alterações na função renal.
• Glicemia para descartar risco de diabetes.
• Níveis de colesterol e triglicérides para medir risco de infarto e derrame.
• TGO/AST e TGP/ALT que medem enzimas relacionadas ao funcionamento do fígado.
• TSH e T4 livre para verificar funcionamento da glândula tireoide.
• Exame de fezes para detectar parasitas e sangue oculto.
• Ultrassom completo de abdômen para analisar imagens de cada órgão.
• Raio-X de tórax para verificar as estruturas da região torácica como coração e costelas.
• Eletrocardiograma e ecocardiograma para investigar problemas cardíacos.
• Testes de pressão arterial para evitar hipertensão e medir risco de ataque cardíaco e insuficiência cardíaca.
Clínica geral é uma especialidade da medicina que prepara o profissional para tratar a maior parte das doenças.
O clínico é capaz de resolver o problema de 70% dos pacientes que buscam atendimento segundo a Sociedade Brasileira de Clínica Médica. Veja alguns exemplos.
• Anemia
• Alergias
• Diabetes
• Dor em articulações
• Dor de cabeça
• Dores nas costas
• Doenças cardíacas em estágios iniciais
• Gastrite
• Infecções de pele, intestinais ou urinárias
• Pressão alta ou baixa
• Prescrição de vacinas
• Refluxo
Em casos que dependem da atuação de outro especialista, o clínico geral atua como parceiro, apoiando o tratamento e monitorando as interações com outros eventuais problemas de saúde da pessoa.
O médico acompanha o paciente durante toda a vida, criando um vínculo de confiança inclusive com a família.
Pode agir em situações de baixa e alta complexidade, estando presente em diversos cenários como no atendimento domiciliar, no ambulatório e até na emergência dos hospitais.
Marque seu check-up com um clínico geral, cuide bem de você.