Diagnóstico precoce de Alzheimer é importante para a qualidade de vida do paciente.
Por Flavio Henrique Bobroff, neurologista
Temida por todos nós, a doença de Alzheimer foi descrita pela primeira vez há mais de 100 anos e até hoje permanece incurável. Também não descobrimos ainda uma forma efetiva de prevenção contra esse tipo de demência.
Não há vacina que nos imunize.
Apenas 10% dos pacientes são de famílias que possuem outros casos de Alzheimer, portanto não podemos considerar o mal como uma doença hereditária.
Infelizmente, qualquer pessoa pode ser afetada.
Em 1906 o médico alemão Aloysius Alzheimer estudou o caso de uma paciente e definiu as características da doença. Auguste Deter era uma mulher saudável até os 51 anos, mas passou a sofrer com a perda progressiva de memória, desorientação e dificuldade de se expressar.
Foi piorando até não ter mais nenhuma condição de se cuidar sozinha. Auguste morreu aos 55 anos e o médico teve permissão para examinar o cérebro dela em busca de alterações que explicassem o que havia ocorrido.
Desde então a ciência vem tentando entender melhor as causas e descobrir novos tratamentos.
Sabemos que placas senis surgem no cérebro do paciente com Alzheimer por causa da produção anormal de uma proteína chamada beta-amiloide. Outra alteração envolve a proteína tau e cria emaranhados neurofibrilares no tecido cerebral.
Também descobrimos que a doença reduz o número de neurônios e prejudica as sinapses, ou seja, a comunicação entre eles. O volume do cérebro diminui progressivamente.
Os neurônios responsáveis pela memória e pelo planejamento e execução de tarefas complexas são os primeiros a serem prejudicados.
Atualmente as pesquisas mostram que o Alzheimer é mais comum a partir dos 60 anos e a prevalência é maior entre as mulheres.
A estimativa é de 35,6 milhão de casos no mundo e, segundo a Associação Brasileira de Alzheimer, 1,2 milhão em nosso país. Grande parte dos doentes não recebe o diagnóstico.
A família interpreta os sintomas da doença como comportamentos normais da pessoa idosa e não procura ajuda quando deveria buscar a avaliação de um neurologista.
As demências, dentre elas o Alzheimer, provocam o sofrimento dos doentes, seus parentes e cuidadores. Além de ser causa de incapacitação de idosos e resultar num alto custo para toda a sociedade.
O diagnóstico no estágio inicial permite tratar os sintomas para que o doente tenha uma vida de melhor qualidade e a família aprenda a dar assistência adequada com mais tranquilidade e segurança.
A informação é um dos principais recursos que temos para enfrentar o Alzheimer.
Por isso recomendo sempre a avaliação neurológica e compartilho aqui respostas à algumas dúvidas que chegam ao consultório.
Os primeiros sintomas da doença surgem com o esquecimento para fatos recentes e corriqueiros, como deixar o fogão aceso, esquecer compromissos, a data em que se recebe a aposentadoria.
Ter dificuldade para encontrar palavras, apresentar desorientação relacionada ao tempo e ao espaço também podem ser sinais da demência.
Uma situação muito comum é a dificuldade para ir ao banco e pagar contas.
A pessoa não sabe mais administrar o próprio dinheiro e começa a se perder com frequência nas ruas em que estava acostumada a andar.
Os doentes também não conseguem mais tomar decisões, perdem a iniciativa e a motivação para fazer suas atividades do dia a dia.
Obviamente não estamos falando de problemas pontuais, mas de comportamentos frequentes, da repetição de episódios de confusão mental que interferem na rotina e diminuem a autonomia da pessoa.
O diagnóstico é feito por exame clínico e pela exclusão de diversas outras doenças que podem ter os sintomas parecidos.
Numa fase muito inicial de Alzheimer é, realmente, muito difícil distinguir.
Apenas a evolução dos sintomas poderá revelar.
O quadro piora com o passar dos meses e anos.
Numa fase intermediária os sintomas se tornam mais evidentes até para os familiares.
O doente precisa de ajuda com a higiene pessoal, tem maior dificuldade para falar e se expressar com clareza.
Pode manifestar ideias sem sentido e até ter alucinações como ouvir vozes e ver pessoas.
É típico o paciente suspeitar que está sendo roubado por alguém ou traído pelo cônjuge.
Se confrontado com a realidade, se torna irritado e até agressivo.
Na fase avançada o comportamento inadequado é ainda mais frequente e exacerbado.
A pessoa também perde capacidade motora. Necessita de ajuda para caminhar e, com a evolução da doença, passa a usar cadeira de rodas ou fica acamada.
Pode haver ainda incontinência urinária e fecal.
A doença não tem cura, mas com o uso de medicamentos podemos garantir sobrevida ao doente, fazer com que o Alzheimer evolua mais lentamente.
O ideal é começar a tratar logo no estágio inicial.
Os remédios ajudam bastante a controlar a agressividade e a depressão, melhorando o sono. São um alívio para os desequilíbrios provocados pelo Alzheimer.
Procurar o auxílio de um neurologista para avaliação e acompanhamento é o melhor a se fazer.