Saiba mais sobre os tipos de crise e como tratar.
Por Flavio Bobroff, neurologista.
A epilepsia é um distúrbio neurológico que ocorre quando células cerebrais, os neurônios, começam a disparar muitas descargas elétricas simultaneamente, emitindo sinais equivocados, provocando algo como um curto-circuito na cabeça.
Esta confusão no cérebro faz com que a pessoa sofra crises epiléticas, também conhecidas como acessos ou ataques epiléticos.
A forma de manifestação das crises depende do local do cérebro atingido pela atividade anormal dos neurônios.
Quando os dois lados do cérebro são afetados, acontecem crises generalizadas.
A mais conhecida é aquela em que a pessoa perde subitamente a consciência e começa a se debater, enrijecendo o corpo e aumentando a salivação.
O ataque dura poucos minutos, logo a pessoa recobra os sentidos, ainda que se sinta um tanto confusa, sonolenta ou agitada.
Também é comum a epilepsia se manifestar em crises de ausência, quando a pessoa fica parada com olhar fixo em algum ponto e totalmente alheia ao que está acontecendo à sua volta.
Em outros casos o que ocorre é a repetição incontrolável de movimentos, como gesticular ou mastigar.
Já nas crises simples, a pessoa não perde consciência e consegue descrever perfeitamente os sintomas, geralmente tontura, formigamento, alterações em som, cheiro e sabor.
A epilepsia é uma doença comum que atinge pessoas de qualquer idade.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) existem cerca de 50 milhões de casos no mundo.
A maioria dos pacientes, desde que receba o tratamento adequado, consegue trabalhar e levar uma vida normal.
Para isso é importante que o paciente e a família aprendam a conviver com a doença, seguindo à risca o tratamento e as orientações do neurologista para evitar crises constantes e fortes.
Uma única crise não caracteriza epilepsia, mas já na primeira ocorrência devemos buscar avaliação e acompanhamento médico para confirmar ou descartar uma suspeita.
O exame clínico e o relato detalhado do que aconteceu com o paciente são fundamentais para o diagnóstico, mas o médico pode pedir também análise laboratorial de sangue e urina, eletroencefalograma e exames de imagem para obter informações complementares.
A ciência aponta várias causas possíveis para a epilepsia.
• Doenças genéticas
• Anoxia neonatal (falta de oxigênio durante o parto)
• Distúrbios metabólicos
• Doenças cardiovasculares como o AVC
• Malformações do cérebro
• Tumores cerebrais
• Infecções como a encefalite
Em 70% dos casos o tratamento com doses diárias de medicamento antiepilético consegue controlar as crises. O sucesso do tratamento medicamentoso depende de disciplina.
O paciente não pode deixar de tomar o remédio um dia sequer e nem de visitar o médico regularmente para eventuais ajustes na medicação.
Para alguns pacientes é preciso buscar ou associar outros recursos que mantenham a doença sob controle, como dieta com pouco carboidrato, neuromodulação e até cirurgia.
Entre outros cuidados, recomendamos que o paciente com epilepsia evite a prática de esportes radicais, natação, ciclismo e atividades que exijam lidar com fogo, usar ferramentas cortantes ou permanecer em locais elevados.
Caso você precise ajudar uma pessoa em crise epilética, tente manter a calma e, enquanto aguarda socorro médico, siga os seguintes passos.
• Mantenha a pessoa deitada de lado para evitar que ela aspire secreções ou vômito, que podem ocorrer durante a convulsão.
• Proteja a cabeça da pessoa para impedir que ela se machuque batendo no chão.
• Tire de perto qualquer objeto que possa oferecer risco.
• Não coloque sua mão ou qualquer objeto na boca da pessoa durante a crise.
Ela pode provocar um ferimento grave em você durante uma mordedura ou acabar quebrando um dente mordendo o cabo de uma colher, por exemplo.
Não se preocupe com a língua, ela não vai sufocar a vítima da crise epilética.
Não hesite, procure um médico.
Epilepsia não é uma doença contagiosa, nem é sinal de loucura.
Não alimente medo ou preconceito, como já dissemos, seguindo o tratamento, a maioria dos pacientes tem excelente qualidade de vida.
Fale com o neurologista.